As exportações brasileiras de café sentiram os reflexos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos. Em agosto, a Alemanha superou os norte-americanos e assumiu a liderança na importação do grão, segundo dados divulgados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No período, o Brasil embarcou 3,144 milhões de sacas de 60 kg, volume inferior ao registrado em agosto de 2024, quando haviam sido exportadas 3,813 milhões de sacas. A queda mais expressiva foi observada nos negócios com os EUA, que compraram 301 mil sacas em agosto — resultado de contratos fechados antes da vigência da sobretaxa. A retração foi de 46% em relação ao mesmo mês do ano anterior e de 26% frente a julho.
“Os americanos deixaram de ser os principais compradores no mês, ficando atrás da Alemanha, que importou 414 mil sacas”, afirmou o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira. Apesar da mudança pontual, no acumulado de 2025 os EUA ainda permanecem como o maior destino do café brasileiro. Historicamente, os dois países alternam a liderança nesse mercado.
A Colômbia, tradicional concorrente do Brasil no setor, surpreendeu ao ampliar em quase 600% suas compras de café brasileiro. Em agosto, adquiriu mais de 112 mil sacas, frente às 16 mil registradas no mesmo mês de 2024. Questionado sobre possíveis triangulações para driblar o tarifaço, o Cecafé descartou essa alternativa, ressaltando que o comércio internacional segue regras rígidas.
O cenário trouxe forte volatilidade ao mercado. Desde o início da sobretaxa, em 7 de agosto, até o fim do mês, a cotação do café arábica na bolsa de Nova York avançou 29,7%, saltando de US$ 2,978 para US$ 3,861 por libra-peso. “O tarifaço bagunçou o mercado e abriu espaço para movimentos especulativos, em um contexto já marcado por oferta apertada e impactos climáticos”, explicou Ferreira.
Como consequência, os exportadores brasileiros faturaram mais. Em agosto, a receita com vendas externas cresceu 12,7% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 1,101 bilhão. No entanto, o Cecafé alerta que, se a sobretaxa for mantida, os consumidores norte-americanos também deverão enfrentar preços muito mais altos, já que a ausência do Brasil no mercado dos EUA não pode ser compensada por outros fornecedores.