Entre os aliados de Jair Bolsonaro, a narrativa oficial de que um suposto estado de alucinação levou o ex-presidente a tentar violar a tornozeleira eletrônica ainda é defendida publicamente, mas, nos bastidores, o discurso encontra resistência. Interlocutores admitem que o comportamento dele não condiz com a imagem de alguém tomado por “certa paranoia”, como alegam os advogados.

No Supremo Tribunal Federal, a tendência é manter a prisão preventiva. Ministros avaliam que os transtornos psicológicos citados pela defesa não devem interferir na análise do plenário virtual. Alexandre de Moraes, relator do caso, já registrou voto afirmando que Bolsonaro agiu de maneira consciente ao tentar danificar o monitoramento eletrônico.

A gravação feita pela diretora-adjunta do Centro Integrado de Monitoramento Eletrônico (Cime), Rita de Cássia, é apontada dentro do STF como decisiva. No vídeo, Bolsonaro relata ter usado um ferro de solda para tentar romper o dispositivo, explica que não quis cortar a cinta da pulseira e ainda tranquiliza a servidora. Para ministros, esses detalhes indicam plena consciência de seus atos.

A defesa insistiu no domingo (23) em um pedido de prisão domiciliar antes da execução da sentença, mas aliados reconhecem que essa chance é remota no momento. Avaliam que o cenário mais provável, no curto prazo, é Bolsonaro permanecer na sala especial da Polícia Federal enquanto aguarda o julgamento de um novo pedido — o que só deve ocorrer após a execução definitiva da pena.

Investigações em curso também destacam contradições entre o depoimento dado por Bolsonaro durante a audiência de custódia e a gravação feita pelo Cime. Os investigadores apontam versões diferentes sobre como a tornozeleira foi danificada — inicialmente atribuída a um esbarrão na escada, depois ao uso de um ferro de solda. Há divergências ainda sobre a motivação: primeiro curiosidade, depois alucinação motivada pela suspeita de que o equipamento teria uma escuta. O horário da tentativa de violação também foi relatado de formas distintas.

O prazo para novos embargos de declaração termina nesta segunda-feira (24). A defesa não deve recorrer dessa forma, mas estuda ingressar com embargos infringentes ainda hoje. O objetivo agora, segundo aliados, é acelerar a execução da sentença. Advogados entregaram laudos médicos que tentam comprovar um surto psicótico, na tentativa de sensibilizar a Primeira Turma do STF e reforçar o pedido por prisão domiciliar.