Foto:
Sábado, 30 de janeiro de 2021 - 19:05:00
Áudio confirma desespero de Coronel Fernanda em ligação com Bolsonaro; ouça
ARRANHADURAS POLÍTCIAS
Os bastidores da política acontece de tudo

Hoje, cinco meses depois e diante de uma dívida de campanha de R$ 700 mil, a coronel Rubia Fernanda (Patriota) ainda se recorda daquela noite remota do dia 31 de agosto de 2020 quando, aos prantos e em desespero, implorou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para que apoiasse sua candidatura ao Senado, mesmo diante de sucessivas recusas do presidente.


A reportagem do jornal A Gazeta teve acesso com exclusividade a um áudio da reunião que ocorreu momentos antes da convenção, onde Coronel Fernanda e o marido, o coronel Wanderson Nunes de Siqueira, se humilharam para que o presidente os apoiassem. Um episódio repleto de lágrimas, desespero, ameaças de desmaio e principalmente marcado pela frieza de Bolsonaro com Fernanda, que naquela altura do ‘quadro político’ já não era mais a preferida do chefe da República.

Otmar de Oliveira

Coronel Fernanda

 


A sede Associação dos Oficiais da Polícia e Bombeiro Militar de Mato Grosso (Assof-MT), onde ocorreu a desditosa convenção, era então um amontoado de bolsonaristas que aguardavam apreensivos pela aparição de Jair Bolsonaro. A imprensa também aguardava, em uma demora que provocou desconfiança aos repórteres mais atentos.


No dia seguinte, a reportagem do jornal A Gazeta publicaria, também com exclusividade, todos os bastidores daquela reunião. Na época, a reportagem foi desclassificada pela assessoria de imprensa de Rubia Fernanda e pela própria candidata, que acusaram o texto de ser “fake news”. Agora, cinco meses depois, a história se confirma. Ponto para o jornalismo.


“Mudou o quadro completamente”


Em um dos salões da Assof, cercada de correligionários, Coronel Fernanda viu o presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso, acionar o presidente da República. Bolsonaro atende rapidamente o telefone e Adilson explica, em tom de descontentamento, sua insatisfação com a teimosia de Fernanda em lançar candidatura mesmo sem o aval de Jair.


“Senhor presidente eu estou aqui junto com a candidata e estou aqui com o marido dela, está tendo uma dificuldade muito grande aqui, eles querem sair candidato sozinho (sic) e eu falei que sem apoio do presidente pra mim não tem interesse”, afirma Barroso, ao que logo em seguida a própria Coronel Fernanda interrompe: “Não é sozinho...”


Demora poucos segundos até que a militar comece a chorar. ‘Presidente se o senhor soubesse como que eu tô aqui...’, diz ela já em prantos, ciente da informação de que Bolsonaro havia decidido, horas antes, em não apoiá-la na eleição suplementar ao Senado em Mato Grosso, vista como estratégica para os bolsonaristas ganharem espaço no Congresso Nacional. Na época, nos bastidores da política, já se especulava um certo ‘pé atrás’ do presidente em relação a candidatura do Patriota, idealizada pelo ex-deputado Vitório Galli e pelo marido de Fernanda, o coronel Wanderson Nunes de Siqueira.


“Mudou o quadro completamente” diz Jair Bolsonaro, ao que a militar diz que sabe das alterações dos bastidores. Estas alterações (ou mudança de quadro) ocorrem, na verdade, por dois fatores: a dificuldade da base Bolsonarista fechar uma candidatura em torno do deputado federal José Medeiros e as pressões que Bolsonaro vinha recebendo do centrão, mas especificamente do PSD, de Gilberto Kassab, que lançou Carlos Fávaro (PSD) e do DEM, de Jayme Campos, que é responsável pelo processo no comitê de ética contra Eduardo Bolsonaro (DEM) no Senado. Acuado, Jair Bolsonaro desistiu de apoiar Fernanda aos poucos e, com isso, abriu caminho para as candidaturas adversárias.


“Eu sei, presidente, mas o senhor me deu essa palavra do senhor”, retrucou Fernanda. “Só um pouquinho presidente que eu estou passando mal aqui’, afirma logo em seguida. Wanderson Siqueira, marido de Fernanda, pergunta em seguida: ‘Presidente, o senhor pode entrar com a gente no link para falar pelo menos um minutinho com o pessoal?”.


“Aí você me mata para 2022”


Naquela altura do campeonato a presença de Bolsonaro era essencial mesmo sem pedir voto para Rubia, já que sua aparição poderia mobilizar a base bolsonarista e convencê-los de que era ela a preferida do presidente, mesmo que o discurso de Bolsonaro tenha sido outro.


‘Para conversar sobre quadro político fica complicado, o que acontece a eleição fica solteira, outros fatos aconteceram ao longo do percursos, o outro candidato aí, o Zé Medeiros, se ofereceu vice de... [Inaudível] Qual que é o meu problema? O quadro criado no momento eu não tenho como garantir a eleição dela, eu vou ser massacrado pelo Brasil que a minha candidata não elegeu senadora em Mato Grosso, aí você me mata para 2022 e eu não sou eleito para mais nada’, disse o presidente e Fernanda, novamente aos prantos, implora ao presidente:


“Presidente, deixa eu fazer uma proposta para o senhor... Presidente o que eu queria do senhor era o senhor me permitir hoje fazer como a gente planejou, amanhã eu vou pedir, eu vou vender o que eu tenho, eu vou mandar fazer uma pesquisa e se meu nome em dez dias...”, disse.


Como que dando de ombros, Bolsonaro afirma: ”[Inaudível] Candidatura é sua, você pode sair numa boa...” e a militar questiona se tem o apoio, mas a resposta segue inaudível. Em seguida, outro lamento: “Olha só, o Galli falou que não vai deixar eu sair se o senhor não estiver no partido, o presidente falou, o Advilson, Adilson falou que eu não vou sair, se o senhor ver a casa está lotada aqui presidente, está toda imprensa aqui”, falou. “A minha proposta para o senhor, eu tenho pedido isso, o senhor tem essa bagagem, eu não tenho ainda, mas eu estou lutando com tudo que eu tenho, o senhor tem...”, repete a coronel.


“Deixa o barco correr”


Em um tom claramente cansado de tentar demover Fernanda da candidatura, Bolsonaro conclui: “Pode sair candidata tranquila, deixa eu falar com Galli e com Adilson”. E diz logo depois: “Olha só, deixa ela ir candidata ao Senado, deixa o correr barco [inaudível] sem problema nenhum”. O presidente do Patriota, Adilson de Barros, concorda: “Está bom meu presidente, é isso aí, nós queremos fazer o que vos agrada”.


“Deixa correr o barco, ela não é carta fora do baralho não, ela tem chance, tá? Vamos estudar a melhor estratégia e fala que não deu acordo, que negociou, conversou, que está tarde para ela desistir e que ela veio candidata ao Senado mesmo, tá ok?”, enfatiza o presidente ao concordar por fim, com um apoio brando a Fernanda que viria se desenhar naquela eleição, uma vez que a participação de Bolsonaro na campanha de Fernanda ficou restrita àquela aparição do presidente no telão da convenção.


“Presidente, presidente, deixa eu pedir uma coisa para o senhor, é... O que eu gostaria, era o senhor me dar prazo de 15 dias, o senhor entrar como se nada tivesse acontecido”, implora outra vez. E Bolsonaro, ignorando o pedido, começa os preparativos para aparecer ao vivo na convenção: “Vamos fazer uma coisa, se eu clicar no link aqui aparece na lateral?”, solicita. E Fernanda rebate: “Sim, aparece”.


E apareceu naquela noite, pela primeira e pela última vez na campanha de Rubia Fernanda.

 

Ouça áudio

 

Volta

Texto/Fonte: