Os Estados Unidos enfrentam eventos climáticos extremos, como incêndios históricos em Los Angeles e uma temporada intensa de furacões em 2024, reflexos das mudanças climáticas. No entanto, os relatórios científicos nacionais que orientam políticas e ações para minimizar esses impactos desapareceram dos sites oficiais na última segunda (30) e terça-feira (1º).

Esses relatórios, elaborados com rigor científico e revisados por pares, são considerados cruciais para salvar vidas e reduzir prejuízos ao fornecer dados detalhados sobre como o clima afeta diferentes regiões do país. A Casa Branca informou que os documentos serão armazenados pela NASA, mas a agência não disponibilizou os arquivos em seu site. A NOAA, responsável pelos dados, também não respondeu aos pedidos de esclarecimento.

Especialistas expressam preocupação. Kathy Jacobs, climatologista da Universidade do Arizona, alertou que a falta de acesso a esses dados é uma "grave adulteração dos fatos" que pode aumentar os riscos para a população. John Holdren, conselheiro científico do ex-presidente Obama, destacou que governos locais usaram esses relatórios para obras essenciais, como elevação de estradas e proteção a hospitais.

O relatório mais recente, de 2023, continha um atlas interativo com dados detalhados por condado, apontando que comunidades indígenas e minoritárias são as mais vulneráveis às mudanças climáticas. A Lei de Pesquisa sobre Mudanças Globais de 1990 exige avaliações periódicas, mas desde a gestão Trump o processo sofreu cortes, e vários canais oficiais foram desativados.

Para cientistas como Katharine Hayhoe e Jacobs, os relatórios dos EUA são mais úteis que os da ONU por sua granularidade e revisão independente. A ocultação desses dados equivale, segundo eles, a uma censura científica, que pode prejudicar a capacidade do país de se preparar para eventos climáticos extremos. Hayhoe comparou a situação a dirigir um carro em alta velocidade com o para-brisa pintado, sem visibilidade do que vem à frente.