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Thursday, 27 de November de 2025 - 09:57:10
Banco Master: taxas altas de CDBs já mostravam risco antes do colapso
CRISE NO BANCO MASTER

As taxas muito acima da média pagas pelo Banco Master em seus CDBs já eram interpretadas por especialistas como sinais evidentes de risco elevado antes do colapso da instituição. Com remunerações que chegavam a 140% do CDI — bem acima dos 110% a 120% típicos de bancos médios sólidos — o movimento indicava dificuldades crescentes de captação por meios tradicionais.

Segundo o consultor sênior Otávio Araújo, da Zero Markets Brasil, o aumento agressivo das taxas demonstrava que o banco havia perdido acesso a financiamentos mais baratos e, por isso, passou a depender do varejo com ofertas cada vez mais altas. A disparada para 177% do CDI no mercado secundário, quando investidores tentaram vender seus títulos antes do vencimento, reforçou a percepção de risco de liquidez, já que a taxa só sobe quando falta interesse de compradores.

Além das taxas incomuns, o modelo de negócios do Master também gerava preocupação. A instituição concentrava boa parte dos recursos em ativos considerados ilíquidos, como precatórios e carteiras “fabricadas”, o que limitava sua capacidade de obter caixa rapidamente. Para especialistas, oferecer 140% do CDI não era vantagem ao investidor, mas o preço de um risco que o mercado qualificado já não estava disposto a assumir.

Para escolher CDBs de forma mais segura, analistas recomendam observar indicadores básicos, como rating de crédito e Índice de Basileia, que ajudam a medir a capacidade do banco de honrar compromissos e absorver perdas. Também é essencial pesquisar o histórico da instituição, acompanhar notícias, analisar o porte e entender como ela capta recursos. Em bancos menores, vencimentos mais curtos tendem a reduzir exposição a oscilações repentinas.

Diversificar emissores e respeitar os limites do Fundo Garantidor de Créditos — que cobre até R$ 250 mil por instituição, totalizando R$ 1 milhão renováveis a cada quatro anos — também são estratégias importantes. Embora os ratings ofereçam alguma referência, o caso do Master mostra que deteriorações podem ocorrer rapidamente.

A escalada das taxas e a dependência crescente de novos aportes levaram analistas a comparar a dinâmica do Master a um esquema Ponzi. Para Luiz Perri, o comportamento lembrava o funcionamento de uma pirâmide financeira, embora o banco fosse regulado e tivesse atividade econômica real. Fernando Gonçalves pondera que o problema central foi um desequilíbrio severo de liquidez, não a ausência de operações legítimas. Já Araújo afirma que houve uma “aproximação perigosa” desse mecanismo, já que o pagamento de compromissos anteriores passou a depender de captar novos recursos a qualquer custo.

A crise deixou expostas as fragilidades da instituição e levantou alertas sobre práticas agressivas de captação no mercado financeiro.

Texto/Fonte: G1