O sobrevoo de caças F-16 da Força Aérea da Venezuela sobre um destróier norte-americano no sul do Caribe aumentou a tensão entre Caracas e Washington. O Pentágono classificou a ação como uma “demonstração de força”, e o Departamento de Defesa acusou o governo de Nicolás Maduro de tentar atrapalhar operações militares contra o narcotráfico na região.
O episódio ocorreu dois dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmar o bombardeio de um barco carregado com drogas, que, segundo ele, pertencia à gangue venezuelana Tren de Aragua — classificada como organização terrorista pelos EUA. A ofensiva resultou na morte de 11 integrantes do grupo, sem baixas americanas. Trump também acusou Maduro de controlar tanto o Tren de Aragua quanto de ser beneficiário do chamado Cartel de los Soles, estrutura que especialistas descrevem como uma “rede de redes” no tráfico internacional.
Horas depois do sobrevoo, Washington determinou o envio de dez caças F-35 para Porto Rico, reforçando a presença já consolidada com submarino nuclear, aviões espiões P-8, sete navios e 4.500 militares na região. Analistas afirmam que a movimentação militar é incompatível com operações de combate ao narcotráfico, sugerindo que os EUA avaliam medidas mais contundentes contra Caracas.
A escalada acontece enquanto a Casa Branca evita detalhar os objetivos militares. A porta-voz Karoline Leavitt declarou apenas que o governo Trump usará “toda a força” contra Maduro. O site Axios revelou que o presidente pediu a assessores um “menu de opções” sobre a Venezuela, sem descartar eventual invasão.
Do lado venezuelano, Maduro reagiu chamando o deslocamento das forças dos EUA para o Caribe de “a maior ameaça à América Latina do último século” e prometeu resistir com armas. “Se a Venezuela for atacada, passaria imediatamente ao período de luta armada em defesa do território nacional, da história e do povo venezuelano”, disse.
Especialistas como o cientista político Carlos Gustavo Poggio, do Berea College (EUA), e o professor Maurício Santoro, do IUPERJ, avaliam que a estratégia americana é semelhante à usada recentemente no Oriente Médio, quando Washington concentrou recursos militares antes de ações no Irã.
O Pentágono, em comunicado, advertiu Caracas: “O cartel que controla a Venezuela é fortemente advertido a não tentar, de nenhuma forma, obstruir, dissuadir ou interferir nas operações de combate ao narcotráfico e ao terrorismo conduzidas pelas forças militares dos Estados Unidos.” Enquanto isso, Caracas mobiliza militares e milicianos, reforçando a narrativa de defesa nacional contra o que considera uma agressão externa.