A possível aplicação de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelos Estados Unidos ameaça inviabilizar as exportações entre os dois países, segundo especialistas do setor. Os EUA, maiores consumidores da bebida no mundo, produzem apenas 1% do que consomem e dependem fortemente do café importado, sendo o Brasil seu principal fornecedor — responsável por cerca de um terço do mercado norte-americano e por 17% das exportações brasileiras entre janeiro e maio deste ano.
O aumento tarifário, proposto pela gestão de Donald Trump, poderia elevar ainda mais os preços do produto nos EUA, onde o café já subiu 32,4% entre junho de 2024 e maio de 2025. A saída do Brasil do mercado norte-americano criaria dificuldades para suprir a demanda, pois nenhum outro país tem produção equivalente. O Brasil responde por 40% da oferta global, com cerca de 40 milhões de sacas de café arábica por ano. A Colômbia, segunda maior produtora dessa variedade, colhe entre 12 e 13 milhões de sacas — insuficientes para cobrir a ausência brasileira.
Para Fernando Maximiliano, analista da StoneX Brasil, os EUA enfrentariam dificuldades logísticas e aumento de custos ao buscar novos fornecedores. A consultoria Cogo também considera a relação comercial entre os países "praticamente inviável" caso a tarifa seja implementada.
No Brasil, o impacto também seria expressivo. Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), afirma que o momento é de grande tensão para os exportadores. Caso o mercado americano seja perdido, alternativas como China, Índia, Indonésia e Austrália estão no radar, mas não compensam o volume e a estabilidade da demanda dos EUA.
Diante do risco, entidades brasileiras como a Abic e o próprio Cecafé defendem o caminho da diplomacia. A Associação Nacional de Café dos EUA (NCA) também tenta intermediar o diálogo com o governo Trump. Segundo Matos, “existe um trabalho sendo feito, e nós temos esperança de que o bom senso e a previsibilidade de mercado prevaleçam, já que quem mais sofrerá será o consumidor norte-americano”.