O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, afirmou que não há decisão tomada sobre a votação do projeto de anistia aos condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes. Segundo ele, a discussão ainda está em curso e envolve a escuta de diferentes grupos interessados na pauta, incluindo tanto apoiadores quanto críticos da proposta.

"Estamos muito tranquilos com relação à discussão dessa pauta [anistia], não há ainda nenhuma definição [sobre colocar em votação a proposta]. Nós estamos sempre ouvindo o colégio de líderes nessas pautas, não tem ainda", declarou Motta à imprensa.

A proposta voltou a ganhar destaque no Congresso com o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de tentativa de golpe de Estado. Nos últimos dias, a pauta tornou-se prioridade da oposição tanto na Câmara quanto no Senado, embora tenha recebido apoio de parlamentares do Centrão.

Aliados de Bolsonaro intensificaram a pressão para que a anistia seja analisada pelo Congresso. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), passou a participar das negociações, articulando junto a líderes políticos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, defendeu uma anistia "ampla, geral e irrestrita", incluindo perdão a Jair Bolsonaro. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), considera "inadmissível" discutir a proposta sem contemplar benefícios ao ex-presidente.

Motta confirmou ter sido procurado por aliados de Bolsonaro para tratar do tema. Um dos encontros envolveu Tarcísio de Freitas e buscou alinhar interesses em torno da proposta. "O governador é um querido amigo, é do nosso partido, nós temos dialogado sempre. Não tem nenhuma novidade em relação a isso. O governador tem um interesse de que se paute a anistia e isso é público, e nós estamos ouvindo a todos", disse Motta.

Nesta quinta-feira, o presidente da Câmara deve retomar a discussão com o líder do PL. No jantar realizado na noite de quarta-feira, Sóstenes Cavalcante esteve com Tarcísio e o pastor Silas Malafaia, onde a pauta da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro foi debatida. Tarcísio teria detalhado sua conversa com Motta, que contou ainda com a participação de Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Sóstenes espera que Hugo Motta apresente um cronograma para avaliar a análise da anistia na Câmara, mas acredita que o presidente da Casa não demonstra "conforto" em discutir o tema durante o julgamento de Bolsonaro.

No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) afirmou que pretende apresentar uma proposta própria sobre a anistia. Aliados indicam que o objetivo da medida seria aliviar parcialmente as penas aplicadas pelo STF. No entanto, Hugo Motta não comentou se a Câmara deve adotar o modelo defendido por Alcolumbre.

Segundo Sóstenes Cavalcante, a proposta discutida no Senado não atende aos interesses da oposição. "Nossa discussão é anistiar todo mundo ou não. Redução de pena não vai livrar as pessoas que estão fora do país", declarou o líder do PL, reforçando que o foco está em uma anistia ampla, sem distinção de beneficiados.