Imagens obtidas pelo g1 e pela GloboNews revelaram que policiais militares dispararam contra o motoboy Evandro, de 45 anos, enquanto ele estava nu no banheiro de um imóvel no Morro José Menino, em Santos. O episódio ocorreu em julho de 2023, durante a Operação Escudo, e completou dois anos no último sábado (30).

Segundo os vídeos das câmeras corporais, os agentes do 5° Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) forçaram a porta do imóvel, apontaram armas de grosso calibre pela janela e efetuaram pelo menos seis disparos. Baleado, Evandro quebrou o vidro do banheiro e saltou de uma altura de sete metros, caindo agonizante nos fundos da casa, onde pediu ajuda: “Pelo amor de Deus, chefe, me salva, eu não sou bandido”. Um dos PMs chegou a revistá-lo em busca de arma, mas nada foi encontrado.

Na versão apresentada em depoimento, os policiais alegaram que estavam em patrulhamento quando suspeitos correram para uma viela e que Evandro estaria armado dentro do imóvel. Entretanto, as filmagens contradizem essa narrativa. Apesar disso, a Polícia Civil indiciou o motoboy por resistência e porte ilegal de arma, após a apreensão de uma pistola prateada. As imagens, no entanto, levantam suspeitas de que o armamento teria sido plantado, já que não aparecia na cama em um momento e surgiu minutos depois.

Evandro ficou 45 dias internado na Santa Casa de Santos, sendo 23 em coma. Ele teve oito costelas fraturadas, perdeu o baço e parte do pulmão, e ainda convive com sequelas físicas e crises de pânico. Casado há mais de 20 anos com a advogada Anna Fernandes Marques, com quem tem três filhos, ele sustenta que sua ressocialização após 20 anos de prisão por sequestro-relâmpago foi interrompida pela violência policial.

Dois dias antes da ação, Evandro relatou ter sido abordado no mesmo imóvel por PMs encapuzados, que o questionaram sobre antecedentes criminais. Ele acredita que a equipe retornou após consultar seu histórico.

A Secretaria da Segurança Pública informou, em nota, que os inquéritos foram concluídos pela Polícia Militar e pela Deic de Santos e agora estão sob análise da Justiça. Já o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) declarou que segue avaliando os elementos do caso, que é o único da Operação Escudo ainda em aberto. Até hoje não houve denúncia contra os PMs nem arquivamento do processo contra o motoboy.

O Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública acompanha a investigação e defende que já existem elementos suficientes para denunciar os policiais por tentativa de homicídio.

A Operação Escudo foi deflagrada em julho de 2023 após o assassinato do PM Patrick Bastos Reis e deixou 28 mortos em supostos confrontos. A ação gerou denúncias de violações de direitos humanos, incluindo execuções e torturas, e segue sob escrutínio de autoridades e organizações civis.