Uma investigação da Polícia Federal revelou um sofisticado esquema de desvios de recursos de aposentadorias e pensões do INSS, no qual o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes – apelidado de “Careca do INSS” – atuava como facilitador financeiro. Segundo o inquérito, Antunes movimentou, entre 2023 e 2024, cerca de R$ 9,3 milhões em pagamentos destinados a pessoas físicas e jurídicas com ligação direta a altos executivos do instituto.
De acordo com o relatório da PF, os maiores repasses partiram das empresas de Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do procurador-geral do INSS afastado Virgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho. Para as sociedades de Thaisa, o lobista teria transferido R$ 7,5 milhões. Em seguida, o escritório de advocacia de Eric Douglas Martins Fidelis — filho do ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, André Paulo Félix Fidelis — recebeu R$ 1,5 milhão intermediado por Antunes.
Ainda segundo o inquérito, pessoas físicas e jurídicas vinculadas a André Paulo Félix Fidelis movimentaram, através de empresas-intermediárias, ao todo R$ 5.186.205,00. O ex-Diretor de Governança, Planejamento e Inovação do INSS, Alexandre Guimarães, figura em seguida na lista de beneficiários, tendo recebido diretamente do lobista R$ 313 mil.
Outras transferências identificadas pela PF incluem R$ 630 mil repassados à empresa de Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira, irmã de Virgílio Filho, que também é investigada. A advogada Cecília Rodrigues Mota, apontada como ‘operadora financeira’ do esquema, presidia duas associações entre 2017 e 2020 e atuava estrategicamente na articulação dos recursos.
Além desses pagamentos, apurou-se que um Porsche Taycan 2022 pertencente a Antunes passou a ser utilizado pela esposa de Virgílio Filho. O veículo, cujo valor de mercado varia entre R$ 660 mil e R$ 1 milhão, integra o escopo das diligências policiais.
O inquérito descreve Antunes, de 61 anos, como consultor de pelo menos 21 empresas, sendo que 19 foram criadas a partir de 2022. Quatro dessas companhias, segundo a PF, serviram de veículos para a “farra do INSS”, atuando como intermediárias financeiras para associações que mantinham acordos de cooperação técnica com o instituto.
“A análise das transações evidencia que o esquema envolve uma rede articulada de pessoas e entidades que coordenavam o envio e o recebimento de valores provenientes de práticas ilícitas”, sintetiza o documento da polícia. A investigação segue em curso, com o objetivo de identificar o total de beneficiários e quantificar o prejuízo aos cofres públicos.