O preço da carne bovina segue em patamares elevados e, segundo especialistas, não deve ceder tão cedo. Pelo contrário, a previsão é de que o valor volte a subir nos próximos meses, sustentado pela forte demanda do mercado externo, pelo aumento do consumo interno e pela perspectiva de redução no número de bois abatidos até 2027.
Dados do IBGE mostram que a inflação da carne entre setembro de 2024 e agosto de 2025 foi expressiva. Alguns cortes registraram aumentos significativos, como acém (29,1%), peito (27,4%), músculo (24,6%) e paleta (24%). Outros, como picanha (12,1%) e fígado (15,6%), também ficaram mais caros, mas em menor intensidade.
O movimento de preços está diretamente ligado ao desempenho das exportações brasileiras. Apesar do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump sobre a carne vendida aos Estados Unidos, o setor encontrou novos mercados. Os EUA caíram da segunda para a quinta posição entre os maiores importadores, atrás de China, México, Rússia e Chile. O México se destacou, triplicando as compras de carne bovina brasileira entre janeiro e julho em relação ao mesmo período de 2024. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o volume exportado em 2025 deve ser 12% maior do que no ano anterior.
Com parte da produção destinada ao mercado externo, a oferta no mercado interno diminui, mantendo os preços altos. “Os valores devem voltar a subir no último trimestre, quando há maior consumo no Brasil”, afirma Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados. Ele acrescenta que a carne bovina tende a se tornar acessível apenas para as classes mais altas, tendência já observada em outros países.
A situação se agrava com a expectativa de queda no abate de bois em 2026 e 2027. Cesar de Castro Alves, do Itaú BBA, lembra que os Estados Unidos também enfrentam dificuldades na produção, com previsão de queda de 2,3% no rebanho em 2025 e 4,1% em 2026. “Com Brasil e EUA ofertando menos gado, a tendência é de preços ainda mais elevados”, observa.
Diante desse cenário, grande parte da população tem recorrido a proteínas mais baratas, como carne suína e de frango. “Essas opções oferecem bom valor nutricional e devem ganhar cada vez mais espaço na mesa do brasileiro”, completa Iglesias. Já o economista André Braz, da FGV, ressalta que a disparada da carne superou em muito o crescimento da renda. “Mesmo com eventuais quedas, o consumidor dificilmente sentirá alívio, porque a carne ficou fora do alcance de grande parte da população”, afirma.