Pesquisadores da Fazenda Experimental da Ufes, em São Mateus (ES), identificaram que as flores do cafeeiro conilon podem ser utilizadas para preparar chá, aproveitando a posição do estado como o segundo maior produtor nacional de café. O objetivo é criar um nicho artesanal que estimule novos investimentos em pesquisa e promova práticas mais sustentáveis.
Fábio Parteli, professor da Ufes, explica que, embora o estudo ainda esteja em estágio inicial, os resultados até agora são promissores. A equipe avaliou 50 variedades de café e submeteu amostras da flor para análise sensorial no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lá, foi feita a prova de xícara e identificadas características olfativas agradáveis, indicando potencial comercial.
“O aroma doce e marcante da flor, percebido por quem passa junto às lavouras, motivou nosso desafio: testar se a flor do conilon também rende um chá de qualidade, como já ocorre com a arábica no Rio de Janeiro”, disse Parteli. Segundo ele, a pesquisa apontou viabilidade, mas ressalta que a colheita ainda enfrenta dificuldades em escala, já que não existe um mercado estruturado para o produto.
O engenheiro agrônomo Gleison Oliosi, cujos familiares cultivam café em Nova Venécia, comenta que as técnicas e tecnologias desenvolvidas na Ufes são levadas para propriedades familiares e cooperativas vizinhas. Além do chá, estudos avaliam o sombreamento adequado para otimizar o desenvolvimento das plantas e aumentar a produtividade.
Entre as variedades testadas, o conilon bicudo se destacou pela alta resistência: tolera ventos fortes, apresenta vigor superior e produtividade até 10% maior que o clone A1, amplamente utilizado no estado. Outro estudo em andamento investiga o café Guarani, caracterizado por elevado teor de cafeína. “Empresas já demonstraram interesse e requisitaram amostras, o que mostra o apelo comercial dessas cultivares”, afirmou Parteli.
A seleção de novas plantas ocorre a partir de lavouras de sementes, onde produtores isolam pés com características superiores – como porte, resistência e tamanho de grão – para clonar e avaliar em campo. Na fazenda da Ufes, esse trabalho é apoiado por um banco de germoplasma a céu aberto com mais de 50 acessos de café, fonte de variabilidade genética para futuros melhoramentos.
Com o avanço das pesquisas, os cientistas esperam refinar técnicas de colheita e secagem das flores, além de aprofundar análises químicas que comprovem a sustentabilidade econômica e ambiental da produção de chá de flor de conilon. O projeto segue em desenvolvimento, com novas cooperações previstas entre Ufes, UFRJ e potenciais parceiros da indústria e do agronegócio capixaba.