Foto: Ted Talk via BBC
Wednesday, 11 de June de 2025 - 15:34:43
Cientistas desmentem noções populares sobre o hímen e a virgindade feminina
MITO DO HÍMEN COMO PROVA DE VIRGINDADE AINDA RESISTE

Apesar de amplamente desmentida pela medicina há mais de um século, a ideia de que o hímen se rompe durante a primeira relação sexual vaginal e que isso comprovaria a perda da virgindade ainda é fortemente enraizada na sociedade. As especialistas norueguesas Ellen Dahl e Nina Brochmann vêm combatendo esse mito com informação científica e acessível, como na palestra TED que realizaram em Oslo, em 2017.

No palco, elas usaram um bambolê para ilustrar como o hímen é na verdade: uma estrutura elástica, com abertura, que não necessariamente sofre alterações com a penetração. “Ele parece mais com uma xuxinha de cabelo, não com uma película que se rompe”, explicou Brochmann.

Essa compreensão errônea, segundo as especialistas, serve para justificar o controle da sexualidade feminina. “É prático acreditar que existe um ‘teste natural’ de virgindade no corpo da mulher se o objetivo é controlar seu corpo e sua vida sexual”, afirmou Dahl.

Mesmo sem base científica, práticas como os “testes de virgindade” — exames para verificar se o hímen está “intacto” — ainda ocorrem em mais de 20 países, incluindo Reino Unido e Estados Unidos. Tanto a ONU quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) consideram esses exames uma violação dos direitos humanos e defendem sua proibição.

Além disso, muitas mulheres recorrem à himenoplastia, uma cirurgia para “reconstrução” do hímen, ainda que essa estrutura não seja um selo e nem se rompa da forma como se imagina.

Marta Torrón, fisioterapeuta especializada em saúde pélvica e sexualidade, reforça que o hímen é composto de pequenas partes chamadas carúnculas himenais, visíveis em diferentes formatos e tamanhos e presentes ao longo da vida. “Em 99% dos casos, o hímen já está naturalmente aberto. E, se não estiver, trata-se de uma má formação que exige correção médica”, explica.

Não há, segundo Torrón, nenhum exame confiável para determinar se uma mulher já teve ou não relações sexuais. “Já examinei milhares de mulheres e não é possível saber se houve penetração apenas observando o hímen”, afirma. Estudos médicos comprovam isso: uma pesquisa de 1906 mostrou que o hímen de uma trabalhadora do sexo permanecia intacto; outro estudo, de 2004, indicou que 34 de 36 grávidas ainda apresentavam hímen visível.

A associação entre hímen e virgindade surgiu no século 16, quando o anatomista Andreas Vesalius identificou pedaços de tecido ao redor da entrada vaginal de dois corpos femininos e, sem evidência científica, sugeriu que isso poderia servir como prova de virgindade. A ideia pegou e resistiu até hoje, apesar de todas as evidências em contrário.

Outro equívoco comum é a ideia de que a primeira relação sexual causa sangramento. “A maioria das mulheres não sangra. E, quando sangram, é por lesão na mucosa vaginal, não porque o hímen se rompeu”, explica Torrón. A vagina se expande com a excitação, tornando-se capaz de acomodar o pênis sem causar ferimentos.

Dahl ironiza os mitos mais populares: “Dizer que andar de bicicleta pode romper o hímen é como dizer que o assento da bicicleta entra na vagina. Não faz sentido”.

Mais do que desmistificar o hímen, especialistas apontam que é urgente abandonar a ideia de que a virgindade feminina é algo que deva ser provado ou preservado. “O mais importante é parar de nos perguntar se uma mulher é virgem ou não. O problema não é o hímen, mas o fato de acharmos que isso importa”, conclui Dahl.

Texto/Fonte: G1