Mensagens interceptadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) revelam que o Comando Vermelho (CV) planejava adquirir drones equipados com câmeras térmicas para vigiar operações policiais e ampliar o controle territorial em comunidades dominadas pela facção. O conteúdo das conversas foi incluído na denúncia que embasou a megaoperação de terça-feira (28), que teve como alvos chefes do tráfico no Rio.
Em um dos diálogos, um criminoso comenta que seu drone “não é noturno”, ao que outro responde: “A gente tem que se adequar à tecnologia”. Segundo os investigadores, o equipamento permitiria identificar movimentações humanas mesmo à noite, reforçando o sistema de vigilância da facção, que já controla mais de mil comunidades no estado.
O Complexo da Penha foi identificado como base estratégica da quadrilha. Por sua localização próxima a vias expressas, o conjunto de favelas é apontado como ponto crucial para o escoamento de drogas e armas. De lá, o grupo tem expandido seu domínio, especialmente sobre áreas da Grande Jacarepaguá.
A denúncia do MPRJ detalha a estrutura hierárquica da facção, com plantões, controle financeiro, punições e ordens de execução. O traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, é citado como líder máximo na Penha e segue foragido. Outro membro, Juan Breno Malta Ramos, o BMW, seria responsável por “tribunais do tráfico” e pela determinação de castigos brutais.
Entre os episódios relatados, estão torturas e execuções dentro das comunidades: uma mulher teria sido colocada em uma banheira de gelo após uma briga, enquanto um homem foi arrastado por uma moto acusado de roubo. O criminoso Fagner Campos Marinho, o Bafo, apontado como executor dessas ordens, foi preso durante a operação.
As mensagens também mencionam o uso de câmeras fixas espalhadas pelas comunidades, usadas para vigiar policiais e rivais. A intenção de adquirir drones com sensor térmico, segundo a Polícia Militar, demonstra um novo patamar de sofisticação tecnológica no tráfico carioca, que hoje combina armamento pesado, monitoramento constante e estratégias de inteligência.
A ofensiva conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e pelo MPRJ buscou cumprir mandados contra líderes e operadores logísticos do grupo. Para os investigadores, as apreensões e o material obtido evidenciam a profissionalização e modernização das ações do Comando Vermelho no Rio de Janeiro.