O julgamento de Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar e acusado de articular um golpe de Estado, repercute fortemente na imprensa internacional. Revistas e jornais de diferentes países discutem tanto a condução do processo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quanto a influência de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, nas tentativas de interferência externas. A sentença deve ser anunciada até 12 de setembro.
A revista The Economist produziu três reportagens recentes sobre o caso. Uma delas chamou a invasão de 8 de janeiro de 2023 de “esquisita e bárbara”, descrevendo o clima de festa nos acampamentos diante do quartel em Brasília. Em outro texto, a publicação afirmou que o julgamento representa um marco histórico, já que será a primeira vez que o Brasil levará um ex-presidente a julgamento por tramar um golpe. A revista comparou a situação à tentativa de Trump de permanecer no poder em 2020 e afirmou que, mesmo punido por sanções e tarifas impostas pelo governo americano, o Brasil tem demonstrado determinação em preservar sua democracia.
O New York Times ressaltou que o Brasil está fazendo aquilo que os EUA não conseguiram: julgar um ex-presidente por tentar se manter no poder após perder as eleições. O jornal destacou as medidas restritivas contra Bolsonaro, como a vigilância policial em seu condomínio, e citou preocupações de que ele possa tentar fugir. A análise levantou dúvidas sobre os limites da atuação do STF, ao mesmo tempo em que registrou a carta enviada por Trump a Lula pedindo a suspensão do processo e classificando o julgamento como “caça às bruxas”. Segundo a reportagem, a pressão externa apenas reforçou a decisão do Judiciário e do governo de seguir com o caso.
A agência Bloomberg chamou atenção para fissuras dentro da própria família Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro teria comemorado as tarifas de 50% anunciadas por Trump contra o Brasil, acreditando ser resultado de seu lobby em Washington. Entretanto, o próprio ex-presidente teria considerado a postura do filho imatura. A agência avaliou que as medidas, vistas inicialmente como vitória, acabaram se voltando contra os Bolsonaro, fortalecendo politicamente Lula com um discurso nacionalista que elevou sua popularidade.
O Guardian também repercutiu as medidas de segurança contra Bolsonaro, citando que Alexandre de Moraes determinou vigilância policial constante após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo à Argentina. O jornal britânico lembrou que o ex-presidente já usava tornozeleira eletrônica e afirmou que especialistas acreditam em fortes chances de condenação, apesar das negativas de Bolsonaro.
O francês Le Monde seguiu na mesma linha, destacando que Bolsonaro foi classificado como “risco de fuga” e agora é monitorado 24 horas por dia. O jornal citou que uma eventual condenação pode levar o ex-presidente a cumprir longa pena de prisão. A publicação também trouxe a crítica de Lula à atuação de Eduardo Bolsonaro nos bastidores, chamando-a de “uma das piores traições da história do país”, e relembrou o cancelamento do visto do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, pelos Estados Unidos.
Assim, a cobertura internacional expõe não apenas a gravidade do julgamento de Bolsonaro, mas também os impactos políticos internos e externos, as divisões familiares e a influência de Donald Trump sobre o processo brasileiro.