Foto: IISD/ENB - Kiara Worth
Friday, 27 de June de 2025 - 11:23:49
Conferência preparatória da COP30 termina sem consenso sobre temas centrais em Bonn
IMPASSES CLIMÁTICOS MARCAM PRÉVIA DA CONFERÊNCIA NO PARÁ

A reunião preparatória da Conferência do Clima de 2025, realizada em Bonn, na Alemanha, chegou ao fim sem solucionar os principais entraves que deverão ser debatidos na COP30, marcada para ocorrer em Belém (PA). Delegações de cerca de 200 países passaram duas semanas discutindo temas estruturantes da agenda climática global, mas divergências históricas se mantiveram, como o financiamento climático, a adaptação e a transição energética.

Apesar de alguns avanços, como o consenso em torno de indicadores para adaptação e o aumento de 10% no orçamento do órgão climático da ONU, os principais tópicos que emperram há anos as negociações globais não tiveram desfecho. “Não vou embelezar a realidade, ainda há muito a fazer antes de nos encontrarmos em Belém”, admitiu Simon Stiell, secretário da ONU para o Clima.

Entre os temas mais sensíveis, o financiamento climático foi novamente um impasse. O objetivo de mobilizar US$ 1,3 trilhão anuais até 2030 para países em desenvolvimento permanece sem um plano claro de execução. Na conferência, oficialmente chamada de 62ª Sessão dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC (SB62), o debate foi instrumentalizado por alguns países como moeda de troca, o que travou outras pautas.

“Desde 1992, o financiamento é uma tensão constante dentro da Convenção do Clima”, lembrou Alexandre Prado, do WWF-Brasil. Ele destaca que, mesmo com mecanismos criados desde o Protocolo de Kyoto até o Acordo de Paris, os compromissos financeiros assumidos nunca foram plenamente cumpridos. Essa frustração, segundo ele, deverá se refletir novamente em Belém.

Outro tópico travado foi o Objetivo Global de Adaptação (GGA), que tenta guiar os países nos esforços para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. Após mais de uma década de discussões, ainda não há consenso sobre os indicadores nem sobre os mecanismos de financiamento. Ainda assim, houve progresso com a redução de mais de 500 sugestões para cerca de 100 indicadores práticos. Porém, o impasse financeiro persiste, principalmente devido à rigidez das posições dos países desenvolvidos.

“A tragédia climática em Porto Alegre mostrou na prática o que é adaptação. Muitos impactos poderiam ter sido evitados com infraestrutura planejada”, disse André Corrêa do Lago, presidente da COP30, reforçando a urgência do tema.

A transição energética também foi objeto de embate. Pela primeira vez, desde 1994, os países reconheceram a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, ainda que o termo adotado tenha sido suavizado para “transição para longe de”, em vez de “eliminação”. O texto final propõe a adoção de sistemas de energia de baixas ou zero emissões, mas deixa a cargo dos países definirem seus compromissos, sem metas globais obrigatórias.

O Brasil, anfitrião da COP30, chegou a Bonn com a expectativa de protagonismo, mas teve desempenho considerado tímido por alguns analistas. Camila Jardim, do Greenpeace Brasil, destacou que, apesar da mobilização diplomática, o país não conseguiu romper os principais bloqueios. Já Claudio Angelo, do Observatório do Clima, avaliou que houve ganhos relevantes em temas como adaptação e transição justa, e que o país cumpriu seu papel de manter os debates vivos até Belém.

Na ocasião, a presidência brasileira apresentou a quarta carta da COP30, estruturada em seis eixos e 30 ações climáticas, abrangendo setores como agricultura, biodiversidade e oceanos. A estratégia busca envolver governos, sociedade civil e setor privado, mirando uma resposta conjunta à crise climática.

Os resultados limitados da conferência aumentaram a pressão sobre Belém. A expectativa é que a COP30 consiga destravar essas agendas ou, ao menos, consolidar um roteiro claro. Alexandre Prado alerta, no entanto, que o cenário internacional é adverso, com o recuo de países como os EUA e a queda de investimentos europeus devido à segurança militar.

“Sem uma diretriz bem encaminhada, a COP30 corre o risco de travar ou comprometer conquistas importantes”, afirma Prado, prevendo meses decisivos de articulação para o Brasil no segundo semestre.

A conferência em Belém será, portanto, o teste definitivo para a diplomacia climática brasileira — e para o futuro das negociações globais sobre o clima.

Texto/Fonte: G1