A cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, vive uma escalada de violência motivada pela disputa entre facções criminosas. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o município registrou 24 homicídios dolosos em 2025 — oito deles execuções —, o que representa um aumento de 26,3% em relação ao ano anterior e uma taxa quase três vezes maior que a média estadual.
Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, às quais o g1 teve acesso, apontam que a ausência de domínio consolidado no tráfico local contribuiu para a guerra entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Em Rio Claro, o PCC enfrenta resistência de grupos menores, como o “Bonde do Magrelo”, formado por dissidentes que se aliaram ao CV.
O município tem localização estratégica, cortado por rodovias como Anhanguera, Bandeirantes e Washington Luís — rotas usadas pelo tráfico. Um relatório de inteligência revelou a existência de uma base logística do CV em Hortolândia, cidade vizinha, usada como entreposto entre o Rio de Janeiro e o interior paulista.
Durante operação policial em março, agentes apreenderam 96 quilos de drogas, armas, rádios e dinheiro. O local, segundo a investigação, era controlado por Wilson Balbino da Cruz, conhecido como “Japonês”, apontado como responsável pelo armazenamento de armamentos e entorpecentes do CV em São Paulo. Ele foi preso em flagrante.
As investigações também identificaram Leonardo Felipe Panono Scupin Calixto (“Bode”) como chefe do CV na região, e Edvaldo Luís Lopes Júnior (“Grão”) como seu aliado. O PCC teria decretado a morte de ambos, o que levou “Bode” a fugir para o Rio de Janeiro. A defesa de Calixto nega as acusações e afirma que o processo corre sob segredo de Justiça.
Moradores relatam aumento da sensação de insegurança. “Hoje eu fecho o portão às 18h, porque a gente tem medo de acontecer alguma coisa”, contou Mônica Silveira, moradora da cidade desde a infância.
O delegado seccional Paulo César Junqueira Hadich explicou que cerca de metade dos homicídios já foi esclarecida, mas destacou as dificuldades. “Quem executa muitas vezes não é da região, e as testemunhas têm medo de falar. Nosso trabalho é técnico e minucioso”, afirmou.
Rio Claro integra o Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9 (Deinter 9), que abrange 51 municípios. O diretor do órgão, Kleber Altale, informou que há uma força-tarefa conjunta entre Polícia Civil, Ministério Público e Polícia Militar para conter o avanço do crime organizado.