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Thursday, 17 de March de 2022 - 22:32:08
Corrupção na Funai era liderada por militares desde 2020
CRIME AMBIENTAL

Três dos presos por exploração ilegal da Terra Indígena Marãiwatséde, no nordeste de Mato Grosso, são militares e um deles, braço direito do coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), foi condenado há 18 anos de prisão pela Justiça do Amazonas pelos crimes de tortura, extorsão e tráfico. Arrendatários são de MT e de outros estados.  

Fuzileiro naval da reserva, Jussielson Gonçalves Silva foi nomeado para assumir a Coordenação Regional de Ribeirão Cascalheira em fevereiro de 2020. Segundo o delegado Mário Sérgio Ribeiro de Oliveira, ele foi o responsável em ‘profissionalizar’ a exploração ilegal da terra indígena desde a sua chegada à cidade, apesar dos indícios de que o esquema já ocorresse desde 2017.

Exemplo disso foi uma interceptação telefônica de uma conversa entre ele e o cacique Damião onde eles ‘celebram’ um acordo para promover um reajuste dos valores dos arrendamentos das terras e que, para isso, não podem fazer reunião com os fazendeiros e sim, conversar de um por um.

Consta que naquela época, o número de arrendatários era 50, alguns foram expulsos já que não tinham dinheiro para pagar a propina no valor desejado. Depois, o número caiu para 35 e por fim, chegou a 15 – número final que consta na investigação da PF. O lucro era de R$ 900 mil ao mês.

Policial da ativa e da reserva

Dois policiais do estado do Amazonas também foram presos na operação da PF. Um deles, Enoch Bento de Souza, já foi expulso da corporação. Ele tinha uma condenação pela Justiça daquele estado por crimes praticados nos anos 2000, entre eles, extorsão, tráfico e tortura.

O mandado da preventiva resultou em flagrante já que ele foi pego com uma arma de fogo sem registro. “A arma foi um presente que ele ganhou do coordenador de Ribeirão Cascalheira. Ele andava com ela pela região e atuava como um braço direito dele por lá”, destacou o delegado.

Já o outro é o segundo sargento da PM-AM, Gerard Maximiliano Rodrigues de Souza, que também atuava como braço direito no que diz respeito à gestão dos arrendamentos. Ele também tem processos em andamento na Justiça do AM. 

Fazendeiros são de todos os cantos

Ao  Gazeta Digital, o delegado Mário explicou que os arrendatários das terras indígenas são pessoas de grande poder aquisitivo. “Tem gente de Goiás, São Paulo, mas também há pessoas de outras cidades de Mato Grosso. São pessoas ricas, mas que não têm nenhum compromisso com aquelas terras, a não ser a exploração de forma ilegal”, disse.

A área que é utilizada para a criação de gado sofreu com incêndios e desmatamento, tudo isso para transforar a floresta em pasto. Em 4 dos 15 arrendamentos ilícitos que a PF conseguiu monitorar até o momento, a estimativa para reparar o dano ambiental já passa de R$ 58 bilhões.

Eles vão responder por crime ambiental e serão indiciados. Além disso, têm até 45 dias para retirar todo o gado da área indígena, um total de 70 mil cabeças de gado conforme a PF. Caso não respeitem esse prazo, os donos serão presos.

Texto/Fonte: Gazeta Digital