Foto: Luiz Gabriel Franco/g1
Friday, 17 de October de 2025 - 18:58:16
Daniela Mercury afirma que não está à venda e critica a lógica da indústria musical
MÚSICA E IDENTIDADE

A cantora Daniela Mercury lançou nesta sexta-feira (17) seu novo álbum, Cirandaia, e aproveitou para refletir sobre a indústria musical e seu papel como artista. “Eu sou uma criadora. Não sou uma intérprete só. Quero dialogar com o momento do Brasil e do mundo, cantar coisas que toquem as pessoas. Eu não estou no mercado, não estou à venda, nunca estive”, declarou.

O disco mistura tradição e tecnologia, unindo o conceito de “ciranda” com “IA”, em referência à inteligência artificial. “O nome traz essa ideia da leveza do Nordeste com a tecnologia mais avançada que existe hoje. Acho que temos que pensar em como lidar com ela”, explicou Daniela. Segundo a artista, o trabalho é “uma rebeldia contra todo tipo de violência” e um ato de amor feito “com todos os amigos”.

Entre as faixas está “É Terreiro”, parceria com Alcione, que homenageia religiões de matriz africana e cita Maria Padilha. “É uma forma cultural de falar dessas entidades e reduzir a intolerância religiosa”, afirmou. A cantora destacou ainda que o álbum é também uma celebração da diversidade cultural brasileira.

Considerada a “Rainha do Axé”, Daniela ressaltou a importância do gênero na música popular brasileira. “O axé renovou a MPB. É uma MPB dançante, percussiva. Todos os artistas que se dizem MPB têm influência do axé. São 40 anos dessas batidas e melodias”, disse.

Ao comentar sobre as tendências atuais, a baiana destacou seu distanciamento do modismo. “Estou fora de moda porque acredito que artista tem que fazer moda. Estou fazendo disco acústico quando todo mundo faz eletrônico. Eu fiz eletrônico lá nos anos 2000”, afirmou.

A cantora também relembrou seu papel pioneiro na performance cênica dos shows. “Antes de mim, ninguém dançava com bailarinos no palco. Eu e Elba Ramalho fomos as únicas nordestinas que trouxeram essa energia da dança aos shows. Essa ideia de espetáculo com trocas de roupa e coreografias nasceu ali”, contou.

Daniela elogiou a nova geração de artistas, reconhecendo que muitos têm adotado pausas estratégicas na carreira. “Essas pausas são saudáveis e inteligentes, criam expectativa para o retorno à cena”, avaliou.

A artista aproveitou para aconselhar quem deseja seguir carreira na música: “Cuidem dos contratos, da parte jurídica e financeira. A vida de artista é uma montanha-russa, cheia de marés altas e baixas. É preciso conduzir a trajetória com delicadeza.”

Nas redes sociais, ela afirma manter uma relação autêntica: “Fui criando uma rede verdadeira, de forma genuína. A fama é uma exposição contínua. Se você não tem propósito, não faz sentido. Eu não faço arte para ganhar dinheiro — isso é consequência.”

Sobre o preconceito contra o Carnaval, Daniela foi direta: “O Brasil é laico, e as artes são livres. A arte é expressão humana.” E concluiu, reafirmando sua longevidade artística: “Eu estou aqui. Muitos ficaram pelo caminho.”

Texto/Fonte: G1