Relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela filha do delator Mauro Cid revela que advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro tentaram, em três ocasiões entre agosto e dezembro de 2023, aproximar-se de sua família com o objetivo de promover uma defesa conjunta. Segundo a declaração, os advogados, entre eles Eduardo Kuntz e Paulo Bueno, queriam trocar equipes de defesa para concentrar a representação sob uma única estratégia, ligada a aliados do ex-mandatário.
Agnes, filha de Mauro Cid, descreve o incômodo das abordagens, que chegaram até a envolver sua participação em competições de hipismo, modalidade esportiva que pratica. Ela narra que, durante encontros e contatos telefônicos, foram oferecidas defesas alternativas para seu pai, com promessas de que seriam feitas por "advogados melhores" ligados a Bolsonaro.
Além disso, a defesa do delator pede que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) investigue possíveis infrações éticas cometidas por Kuntz e Fábio Wajngarten — este último ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, que teria mantido contatos insistentes com a família de Cid.
Gabriela, esposa do delator, também relatou que recebeu ligações frequentes de Wajngarten, chegando a atender apenas por orientação da filha de 14 anos, que era igualmente alvo dessas tentativas de contato. A defesa do delator entregou ao STF o telefone da filha para perícia, alegando que Kuntz teria solicitado que ela apagasse mensagens e limpasse o celular regularmente, numa suposta tentativa de obstruir as investigações.
Mauro Cid nega ter mantido qualquer contato com Kuntz, assim como desconhece a origem do perfil “Gabrielar702”, mencionado no processo. Ele acredita que as tentativas de aproximação visavam obter informações sobre sua colaboração premiada e prejudicar as investigações, utilizando a menor de idade como intermediária.
Até o momento, os advogados envolvidos preferiram não se manifestar oficialmente, e Wajngarten não retornou os contatos da reportagem.