A dispensa de funcionários do Itaú após apurações sobre registros de inatividade em computadores corporativos reacendeu a polêmica sobre como medir produtividade no home office. O banco afirma que os desligamentos foram resultado de uma “revisão criteriosa” de condutas no trabalho remoto e no registro de ponto, mas sindicatos e especialistas questionam os critérios adotados.
Segundo a advogada trabalhista Luana Couto Bizerra, a legislação permite o uso de softwares de monitoramento em equipamentos fornecidos pela empresa, desde que respeitados os princípios da transparência, proporcionalidade e finalidade legítima. Ela alerta, porém, que exigir câmera ligada constantemente não é permitido, e que o uso de computadores pessoais para fiscalização pode configurar invasão de privacidade.
Outro aspecto central é o chamado “direito à desconexão”, que garante ao empregado períodos de descanso. Especialistas apontam que sistemas que avaliam apenas movimentações de mouse ou teclado não captam atividades realizadas fora do computador, como reuniões, ligações ou análises de documentos, podendo gerar distorções na avaliação do desempenho.
Ex-funcionários ouvidos pelo g1 relatam que não receberam advertências formais antes da dispensa e que, em alguns casos, chegaram a ser reconhecidos internamente por bons resultados. O sindicato dos bancários classificou as demissões como desrespeito à categoria e criticou a falta de diálogo.
Para Leyla Nascimento, presidente da ABRH Brasil, feedbacks regulares são recomendados antes de uma demissão, embora não sejam obrigatórios. Já o advogado trabalhista Maurício Corrêa da Veiga defende que boas práticas no home office incluam fornecimento de equipamentos, definição de regras claras, monitoramento proporcional e respeito à privacidade.
Na avaliação de especialistas, a situação evidencia os desafios de equilibrar disciplina, confiança e flexibilidade no trabalho remoto, modelo cada vez mais consolidado desde a pandemia, mas ainda cercado de incertezas sobre sua regulação e aplicação no dia a dia das empresas.