Um estudo publicado na revista Nature Communications revela que o desmatamento é responsável por três quartos da redução das chuvas na Amazônia, superando os efeitos das mudanças climáticas globais. A pesquisa, liderada por cientistas brasileiros e estrangeiros, mostra que a floresta deixou de receber em média 15,8 milímetros de precipitação por estação seca devido ao corte raso.
O levantamento também aponta aumento de até 2 °C na temperatura máxima da região, sendo 16,5% desse aquecimento diretamente associado à perda da cobertura vegetal. O professor Marco Aurélio de Menezes Franco (IAG-USP), coordenador do estudo, alerta que basta a remoção de 10% a 40% da floresta para que alterações bruscas no regime de chuvas e na temperatura se tornem evidentes.
Os impactos afetam o ciclo de umidade dos chamados “rios voadores”, que levam vapor d’água da Amazônia para o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, atingindo diretamente o agronegócio, que já registra perdas de produtividade. A redução das chuvas também compromete os rios, a biodiversidade aquática e comunidades que dependem da pesca e da agricultura de subsistência.
Se o ritmo atual de devastação persistir, até 2035 a Amazônia poderá enfrentar um aumento de 2,64 °C nas temperaturas máximas e queda de 28,3 mm de chuva por estação seca em relação a 1985. Os dados reforçam que o bioma está próximo de um ponto crítico, com mais secas, queimadas e calor extremo.
Para Franco, os resultados têm implicações diretas no debate da COP30, em Belém, oferecendo parâmetros científicos para que governos e negociadores discutam soluções contra o desmatamento com base em evidências.