O megaprojeto que ligará Santos a Guarujá por meio de um túnel submerso avança para a fase decisiva nesta sexta-feira, quando será realizado o leilão de concessão. Avaliado em R$ 6,8 bilhões, o empreendimento será executado em parceria entre os governos estadual e federal, com participação da iniciativa privada responsável por construir, operar e manter a estrutura por 30 anos.
Duas empresas tiveram as propostas classificadas como regulares e estão aptas a disputar o certame: a espanhola Acciona Concesiones e a portuguesa Mota-Engil. Vencerá quem ofertar o maior desconto sobre a parcela mensal paga pelo poder público ao longo do contrato; em caso de empate, haverá rodada de lances ao vivo.
Com 1,5 km de extensão total — sendo pelo menos 870 metros submersos —, o túnel foi escolhido como solução de mobilidade regional para atender veículos de passeio, transporte público, caminhões, ciclistas e pedestres. Hoje, aproximadamente 78 mil pessoas fazem a travessia diária entre as duas margens por embarcações e balsas, um gargalo histórico para moradores e a dinâmica do porto.
A obra é apontada como candidata a se tornar a maior intervenção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Pelo cronograma do edital, a conclusão está prevista até 2030. O projeto já foi, inclusive, alvo de disputa de protagonismo político: tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o governador Tarcísio de Freitas apresentaram a ligação como conquista de suas gestões. “Não é possível a gente deixar de trabalhar de forma conjunta, de compartilhar esforço, porque eu não gosto de fulano, o fulano não gosta de mim”, disse Lula à época. Mais recentemente, declarações de ambos nas redes e a apoiadores passaram a destacar o empreendimento sem menções recíprocas.
O método construtivo adotado difere dos túneis escavados em rocha, comuns em sistemas metroviários. Aqui, a técnica é a do túnel imerso: grandes blocos de concreto são pré-moldados em docas secas, com câmaras internas de ar para flutuação e testes antes do lançamento ao mar. A escolha considerou as características geotécnicas locais — solo com argilas moles e sedimentos fluviais —, que não oferecem a estabilidade necessária para escavações profundas.
Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, a solução submersa também traz benefícios ambientais e urbanos: exige menos desapropriações, reduz o impacto visual e tende a ser executada com mais rapidez e eficiência. A alternativa de uma ponte foi descartada por dois fatores centrais: as restrições operacionais da Base Aérea de Santos e o intenso tráfego de navios no canal portuário, incompatíveis com vãos e alturas seguras.
A construção seguirá etapas rigorosas para garantir precisão e segurança. Na primeira etapa, será preparada a “cama” do túnel: escavação no fundo do canal, execução de base de concreto e, em terra firme, fabricação dos módulos com testes de vedação e resistência. Na segunda etapa, rebocadores posicionarão cada seção no ponto exato do leito; a água será bombeada para dentro das câmaras, afundando os blocos de forma controlada. O encaixe e o nivelamento ocorrerão com auxílio de sistemas hidráulicos, fixação por pinos de aço e assentamento sobre um leito de areia. Na terceira etapa, toda a estrutura será recoberta por uma camada de pedras, protegendo o túnel contra impactos e as movimentações naturais das correntes marítimas.
Ao final, espera-se que a ligação reduza os tempos de deslocamento, aumente a previsibilidade logística e melhore a integração urbana entre as duas cidades, sem comprometer as operações do porto. O desenho da concessão prevê que a remuneração do parceiro privado ocorra majoritariamente via contraprestação pública, o que explica a disputa por descontos na parcela mensal — mecanismo pensado para alinhar preço, qualidade e cronograma durante os 30 anos de vigência contratual.
Além de aliviar a travessia cotidiana de moradores e trabalhadores, o túnel é tratado como peça estratégica para a competitividade do complexo portuário, por diminuir interferências no tráfego de superfície e oferecer uma alternativa contínua às balsas. Com o leilão concluído, a expectativa é que a contratada acelere a fase executiva para cumprir a meta de entrega até 2030, mantendo as condicionantes ambientais e operacionais estabelecidas no edital.