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Sexta, 26 de março de 2021 - 09:27:10
Dólar deve cair com juros em alta? Entenda se ainda vale investir na moeda
ECONOMIA
Disparadas como do ano passado não devem mais se repetir, mas futuro do câmbio ainda é incerto

Com alta de 30% no ano passado, o dólar foi um dos melhores investimentos de 2020. Só o ouro, que avançou 55%, ficou à frente. Qualquer pessoa pode investir em ambos por meio de fundos de investimentos especializados, com aplicações que partem, no geral, de R$ 1.000.

Para 2021, porém, o caminho pode ser diferente para o dólar, e isso já começa a aumentar a cautela de gestores e analistas pela aplicação. Por trás da mudança de ventos está a elevação da Selic, a taxa básica de juros, pelo Banco Central. Foi a primeira alta em seis anos, de 2% para 2,75% ao ano, e o consenso de economistas é que ela deve continuar subindo até chegar em algum lugar entre 4% e 6% até o final do ano.

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A Selic tem impacto direto sobre o câmbio. É ela que dita a remuneração dos títulos de renda fixa do país e, quanto maior, em comparação aos juros de outros países, mais atraente será para investidores estrangeiros, o que ajuda a trazer dólares para a economia e a baixar a cotação.

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A necessidade de controlar as altas do dólar é justamente uma das razões que levaram o BC a voltar a aumentar os juros, e o ajuste dos próximos meses promete ser expressivo, fazendo a renda fixa brasileira voltar a ser razoavelmente atraente –hoje os rendimentos básicos dela estão muito abaixo da inflação há meses

Impacto pequeno e dólar acima de R$ 5

A visão de especialistas, porém, é que o impacto dos juros mais altos sobre o câmbio será pequeno, ou seja, o dólar não deve cair muito para baixo dos R$ 5,50 ou R$ 5,40 em torno do qual vem rodando nos últimos meses, já que ainda há muita instabilidade política e econômica jogando contra.

As reticências com relação aos investimentos em dólar ou em fundos cambiais para este ano vêm muito mais pelo fato de que não têm mais muito para onde eles subirem do que pela perspectiva de que possam virar para quedas consistentes.

Além disso, novos sustos –seguidos de novos picos de alta– não estão descartados, o que significa que ter a moeda na carteira neste ano, ao fim, pode significar muita oscilação.

“Realmente, os juros devem subir em um ritmo forte e isso cria, de um lado, um fluxo de valorização para o real, mas, de outro, há um ambiente político muito instável”, disse o diretor de produtos do banco digital Modalmais, Pedro Rosa.

Ele menciona “o avanço da pandemia, o governo pouco coeso, a instabilidade nos ministérios e as questões em relação à vacina” como pontos que seguem nublando a vista dos investidores em relação ao Brasil e, portanto, inibindo uma entrada maior de dólares.

"Não indiciaria ninguém entrar comprando dólar agora; eu ficaria observando. E, para quem já tem investimentos em dólar, talvez seja o caso de diminuir um pouco a posição. Toda a indicação macro é de baixa, mas não sabemos quando essa vai acontecer, por conta de todos esses fatores na contramão."

Pedro Rosa, diretor de produtos do Modalmais

Incerteza e muita volatilidade

Para Rosa, o cenário à frente é mais o de muita volatilidade e imprevisibilidade e menos o da valorização ou desvalorização consistente. É diferente do que aconteceu no ano passado, quando o estouro da pandemia causou um pânico global generalizado e uma corrida de investidores do todos os cantos de volta para ativos muito seguros, como o dólar e o ouro, não à toa os que mais se valorizaram no mundo todo.

“Tem pouco espaço para a moeda subir de maneira consistente como vimos no rali de 2018 para cá, quando saímos do nível dos R$ 3 para mais de R$ 5”, disse. “Não acho que haja mais ambiente para isso, a não ser que algo completamente disruptivo aconteça no governo. O patamar de R$ 5,70 ou R$ 5,80 já parece ser o topo.”

Quedas modestas

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, também acredita que todos os fundamentos, neste ano, apontam para um dólar mais baixo em 2021 –mas sujeito a ressalvas e para um patamar ainda longe do confortável.

“Até o final do ano, a expectativa é de valorização do real, incluindo o cenário de aceleração da vacinação até lá, o que por si já melhora a conjuntura do Brasil e sugere ter uma possibilidade de valorização da taxa de câmbio”, disse ela.

Sua estimativa é que a combinação de juros mais altos com a economia voltando a respirar dá espaço para que o dólar caia para a faixa dos R$ 5,30 aos R$ 5,40 até o fim do ano. Ao mesmo tempo, a possibilidade de a moeda arrancar até os R$ 6 não fica totalmente descartada –“sem dúvida; muita coisa ainda pode acontecer”, disse ela.    

Atualmente o dólar é negociado na faixa dos R$ 5,50. No fim de 2020, chegou a cair aos R$ 5,19.

"É factível que a taxa chegue ao final do ano em R$ 5,40. É uma pequena melhora em relação ao que temos hoje, mas pior do que tínhamos no fim do ano passado. Qualquer coisa acima de R$ 5 ainda mostra um cenário que está indo mal."

Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest
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