Foto: Reprodução/Fantástico
Monday, 25 de August de 2025 - 08:03:58
Empresário criou 334 empresas de fachada, movimentou bilhões e recrutava laranjas até entre moradores de rua
CRIME FINANCEIRO

Jobson Antunes Ferreira, ex-oficial da Marinha Mercante de 63 anos, é apontado pela Polícia Federal como um dos maiores estelionatários do país. Usando identidades falsas — ele chegou a atender por mais de 30 nomes diferentes —, o empresário construiu um império de 334 empresas fantasmas, movimentando mais de R$ 2 bilhões. A operação criminosa contava com a participação da esposa, Cláudia Márcia, que também assumia papéis fictícios em documentos.

As investigações apontam que o esquema funcionava com a criação de companhias de fachada em endereços já ocupados por estabelecimentos reais. Em um minimercado, por exemplo, foram registradas 30 mercearias diferentes. Em outro local, a polícia identificou 13 empresas no mesmo endereço. Todas estavam formalmente regulares, mas sem qualquer funcionário ou atividade produtiva, sendo usadas apenas para fraudes bancárias.

Segundo o delegado Bruno Bastos Oliveira, de Niterói, Jobson operava como um verdadeiro “empresário do crime”. Os golpes começaram no início dos anos 2000, quando ele usava empresas de material de construção para obter crédito. A estratégia evoluiu para a abertura de múltiplas firmas fictícias, sempre em parceria com contadores e com a colaboração de gerentes de bancos públicos e privados, que recebiam propina em dinheiro, uísque, celulares ou outros benefícios.

As vantagens também eram oferecidas a pessoas em situação de rua, usadas como laranjas em troca de pequenas quantias, cestas básicas ou até dentaduras. Alguns chegaram a reclamar de falta de pagamento, cobrando valores prometidos. Em escutas obtidas pela PF, o próprio Jobson admitia pagar propinas para manter o esquema ativo.

A fraude incluía empréstimos bancários maquiados com o pagamento inicial das parcelas. Após alguns meses, os valores deixavam de ser quitados, simulando dificuldades financeiras. Em um dos casos, Jobson apresentou documentos falsos para obter crédito em nome de uma empresa de energia solar, chegando a listar clientes fictícios e até usar a própria casa como endereço da suposta firma.

Preso pela primeira vez em 2024, quando um laranja foi flagrado tentando sacar dinheiro com documentos falsos, Jobson chegou a tentar subornar um delegado da PF oferecendo valores em troca de favorecimento. Ele permaneceu seis meses preso com tornozeleira eletrônica, mas voltou a atuar no esquema assim que deixou a prisão.

Na última quinta-feira (21), Jobson e a esposa foram novamente detidos em um condomínio de luxo em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói. O imóvel, segundo as investigações, foi adquirido com dinheiro ilícito e usado para lavar recursos. O casal vai responder por estelionato qualificado, lavagem de dinheiro, organização criminosa e financiamento fraudulento.

A defesa, representada pelo advogado Jair Pilonetto, nega os crimes e afirma que a inocência dos acusados será comprovada. Já a Febraban repudiou em nota a participação de funcionários de bancos em práticas criminosas e destacou a realização de treinamentos internos para identificar operações suspeitas.

Em depoimento à PF, Jobson demonstrou pouco arrependimento. “Não vou dizer que eu sou santo”, declarou. O delegado responsável afirmou que o investigado detalhava os golpes com naturalidade, como se relatasse feitos empresariais, e parecia não acreditar que seria preso novamente.

Texto/Fonte: G1