A reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o norte-americano Donald Trump, realizada no domingo (26) durante a Cúpula da ASEAN, em Kuala Lumpur, na Malásia, gerou repercussões distintas nos bastidores da política brasileira. No entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), as imagens dos dois líderes lado a lado foram interpretadas como uma derrota simbólica.
Fontes ligadas ao grupo bolsonarista afirmam que, embora publicamente aliados tenham tentado minimizar o encontro — destacando a breve menção de Trump a Bolsonaro após uma pergunta de jornalista —, a avaliação interna foi de que Lula conseguiu ocupar o espaço de interlocutor com o presidente dos Estados Unidos, papel que antes era atribuído a Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Nos bastidores do Planalto, o deputado é visto com ironia, sendo chamado de “cabo eleitoral de Lula”, por ter articulado o “tarifaço” que acabou levando à aproximação entre os dois presidentes. Integrantes da direita mais pragmática lamentam que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não tenha assumido essa função de mediação econômica, ideia que foi rejeitada pelo próprio Eduardo, que chegou a classificar as conversas do governador com empresários como “subserviência servil às elites”.
Para auxiliares de Lula, o encontro reforça a imagem do petista como figura central nas negociações internacionais e como liderança capaz de dialogar com Trump para conter efeitos do aumento tarifário sobre produtos brasileiros, como café e carne. Uma fonte próxima ao Planalto afirmou que o presidente tem buscado “reorganizar o cenário deixado pela extrema-direita” e manter a interlocução diplomática em tom pragmático.
A avaliação dentro do governo norte-americano, segundo interlocutores ouvidos, é que Trump procura formas de aliviar tarifas que prejudicam o consumidor dos EUA sem demonstrar recuo político — contexto que abriu espaço para a retomada do diálogo com o Brasil.