O primeiro mês de vigência do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos trouxe impactos distintos às exportações brasileiras, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Os dados do governo federal analisados pelos pesquisadores mostram que as vendas do Brasil para o mercado norte-americano caíram 27,7% em apenas um mês e 18,5% em comparação anual.
A Região Sudeste, principal polo exportador para os EUA, registrou queda de 38% entre julho e agosto. No Nordeste, a retração foi ainda maior, de 52,7% no mês. No entanto, a comparação com o mesmo período de 2024 mostra resultado positivo, reflexo da antecipação de embarques em julho para escapar da sobretaxa.
“O objetivo dessas análises é fornecer subsídios para que o governo federal adote medidas mais focadas e eficazes no apoio a estados e setores atingidos”, explica Flavio Ataliba, pesquisador da FGV Ibre.
O estudo caracteriza o impacto inicial como rápido, profundo e desigual, mas ressalta que ainda é cedo para medir os efeitos sobre o emprego. A expectativa é de que parte das perdas possa ser compensada com a busca por novos mercados, especialmente na Europa e na Ásia.
Alguns setores já sentem a pressão. A indústria de pescados, por exemplo, foi duramente afetada. A Frescatto, que havia investido em fábrica e geração de empregos para atender à demanda de lagostas nos EUA, viu as exportações praticamente pararem. “Devemos vender apenas 12,5% do que comercializamos em 2024”, afirma o CEO, Thiago de Luca.
No Ceará, a Usibras, especializada no processamento de castanhas, adotou medidas para conter custos e evitar cortes de pessoal. “Reduzimos banco de horas e antecipamos férias, para não precisar tomar decisões mais duras”, relata o diretor-executivo Thiago Taumaturgo.
Enquanto isso, parte da produção de lagostas segue estocada, aguardando novos compradores. “O pescado brasileiro é reconhecido pela qualidade, mas precisamos de tempo para absorver esse choque e redirecionar nossas vendas”, diz De Luca.