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Friday, 31 de October de 2025 - 12:33:51
Estudo indica que terapia celular CAR-T, apesar de cara, pode reduzir custos e salvar mais vidas
AVANÇO NA ONCOLOGIA BRASILEIRA

Um estudo liderado pelo médico Samir Nabhan, supervisor da Unidade de Transplante de Medula Óssea e Oncologia do Complexo Hospital de Clínicas da UFPR, mostrou que a terapia celular CAR-T, mesmo com custo inicial elevado, pode representar economia no tratamento do câncer e ampliar as chances de cura. A pesquisa, publicada no Journal of Medical Economics e apresentada no Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, avaliou o impacto clínico e financeiro do uso da tecnologia em pacientes com linfoma difuso de grandes células B, o tipo mais comum e agressivo de linfoma não Hodgkin.

O tratamento ainda não está disponível no SUS e é oferecido apenas em centros privados credenciados, com custos cobertos por planos de saúde ou recursos particulares. Segundo Nabhan, “essas terapias são caras, mas, quando usadas precocemente, evitam gastos maiores com terapias posteriores”.

Como funciona a CAR-T

A CAR-T Cell é uma forma avançada de imunoterapia personalizada. As células de defesa (linfócitos T) do próprio paciente são retiradas, modificadas geneticamente em laboratório para reconhecer e destruir o tumor e, depois, reinfundidas no corpo.
De acordo com a médica Ana Rita Fonseca, do Hospital Sírio-Libanês, “é como se as células ganhassem uma nova chave para identificar e eliminar as células doentes”.

A terapia é aprovada pela Anvisa para tratar linfomas e leucemias resistentes, com três versões liberadas: axi-cel, tisa-cel e cilta-cel, este último usado em mieloma múltiplo.

Quando o caro sai mais barato

O estudo comparou o custo-benefício da CAR-T com outros tratamentos disponíveis, como o epcoritamab (anticorpo biespecífico) e terapias convencionais de quimioterapia e transplante de medula.
Os resultados apontaram que o uso precoce da CAR-T gera economia significativa:

  • Aplicada antes do epcoritamab, reduziu o gasto médio em R$ 194 mil por paciente;

  • Quando usada na segunda linha de tratamento, a economia chegou a R$ 1,3 milhão;

  • Menos pacientes precisaram de novas terapias, diminuindo internações e custos hospitalares.

“Investir cedo traz retorno econômico e clínico”, destacou Nabhan.

Impacto clínico e ganhos de sobrevida

Antes da CAR-T, as chances de cura para o linfoma difuso recidivado não passavam de 20%. Com a nova terapia, o índice subiu para 50% a 60% em dois anos, segundo o estudo. “Estamos curando até 40% a mais de pacientes. É uma mudança real no destino dessas pessoas”, afirmou o pesquisador.

Realidade e desafios no Brasil

A pesquisa foi a primeira adaptada à estrutura de custos da saúde privada brasileira, levando em conta dados da CMED e da CBHPM, que refletem a diversidade de preços entre estados e operadoras. “O mesmo medicamento pode ter valores diferentes conforme o hospital ou convênio”, explica Nabhan.

Apesar do potencial, o alto custo e a dependência de laboratórios estrangeiros limitam o acesso. Iniciativas da Fiocruz e do Instituto Butantan buscam produzir versões nacionais da tecnologia, o que poderia baratear e ampliar o tratamento.

Para o oncologista Stephen Stefani, da Americas Health Foundation, “a produção local pode mudar completamente o cenário da terapia celular no país”.

Nabhan resume o desafio: “A CAR-T é cara, mas custo-efetiva. Precisamos olhar o valor total — menos recidivas, mais cura e mais tempo de vida”.

Texto/Fonte: G1