Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego e do Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI/NIH) identificaram que altos níveis de poluição do ar estão fortemente associados a mutações genéticas envolvidas no desenvolvimento do câncer de pulmão — inclusive em pessoas que nunca fumaram.

A descoberta surgiu da maior análise de genoma completo já feita em tumores de pulmão de não fumantes. O estudo, publicado nesta quarta-feira (2), analisou 871 casos de câncer em indivíduos de 28 cidades de diferentes continentes, incluindo Europa, América do Norte, África e Ásia.

Segundo Ludmil Alexandrov, professor de bioengenharia e medicina celular e molecular da Universidade de San Diego e um dos autores do estudo, a poluição do ar pode causar alterações genéticas semelhantes às observadas em fumantes crônicos. “Vimos que a poluição está associada aos mesmos tipos de mutações no DNA que geralmente são causadas pelo tabagismo”, destacou.

Os cientistas mapearam todo o material genético dos tumores e cruzaram os dados com medições de poluição atmosférica, baseadas em imagens de satélite, estimando a exposição de longo prazo dos pacientes a partículas finas no ar.

Os resultados mostraram que pessoas mais expostas à poluição apresentavam maior quantidade de mutações genéticas — algumas idênticas às de fumantes. Em certos casos, o número de alterações genéticas em indivíduos expostos à poluição superava até mesmo os índices observados em fumantes passivos.

Duas evidências chamaram atenção: a ligação direta entre a poluição e mutações no gene TP53, conhecido por atuar na supressão de tumores e chamado de “guardião do genoma”; e o encurtamento precoce dos telômeros — estruturas que protegem os cromossomos durante a divisão celular. O desgaste acelerado dessas estruturas está associado ao aumento do risco de câncer, já que prejudica a replicação celular precisa.

O câncer de pulmão é um dos mais letais do mundo, historicamente ligado ao tabagismo. No entanto, cerca de 25% dos casos atuais ocorrem em pessoas que nunca fumaram. Esse cenário crescente motivou a pesquisa, que agora deve ser ampliada para incluir pacientes da América Latina, Oriente Médio e outras regiões da África.

Entre os próximos objetivos, os cientistas querem investigar os efeitos de novos fatores de risco, como o uso de cigarros eletrônicos e o consumo de maconha, especialmente entre jovens que nunca fizeram uso de tabaco convencional.