As investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União revelam um esquema bilionário de descontos irregulares em benefícios do INSS, praticado entre 2019 e 2024. Documentos enviados ao Supremo Tribunal Federal apontam que o ex-presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, recebia cerca de R$ 250 mil mensais para manter ativa a estrutura de desvios ligada à Conafer, entidade conveniada ao órgão desde 2017. Ele foi preso nesta quinta-feira (13).
O grupo operava mediante falsificação de fichas de filiação, inclusão de dados fraudulentos nos sistemas do INSS e liberação de repasses sem comprovação de vínculo dos supostos associados. Segundo a PF, a propina destinada a Stefanutto circulava por empresas, operadores financeiros e até por uma pizzaria. Apenas pela Conafer, mais de R$ 640 milhões teriam sido desviados entre 2017 e 2023, sem contar outras entidades também investigadas.
Mensagens interceptadas pela PF, planilhas encontradas com operadores e registros de liberações irregulares reforçam a tese de pagamentos sistemáticos ao ex-presidente do órgão. A investigação o descreve como peça-chave para manter o acordo de cooperação técnica que sustentava a fraude.
Outro nome central apontado pela PF é o do ex-ministro da Previdência, Ahmed Mohamad Oliveira (ex-José Carlos Oliveira). Como diretor de benefícios do INSS e, posteriormente, como ministro do Trabalho e Previdência no governo de Jair Bolsonaro, ele teria autorizado repasses ilegais e recebido vantagens indevidas. Uma planilha de fevereiro de 2023 registra um pagamento de R$ 100 mil ao codinome “São Paulo Yasser”, que, segundo os investigadores, era usado para se referir a Ahmed. A PF também localizou mensagens de agradecimento enviadas por ele após supostos recebimentos.
A Polícia Federal afirma ainda que Ahmed destravou e autorizou o repasse de R$ 15,3 milhões à Conafer sem exigir comprovação de filiação dos beneficiários, o que permitiu a retomada e expansão do esquema, alcançando mais de 650 mil benefícios previdenciários.
O conjunto mais amplo de fraudes, envolvendo outras organizações além da Conafer, pode ter causado prejuízo de R$ 6,3 bilhões, segundo estimativa da PF.
Na operação desta quinta-feira, foram presos:
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Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS;
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Antônio Carlos Antunes Camilo, o “Careca do INSS”;
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André Paulo Felix Fidelis, ex-diretor de Benefícios;
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Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS;
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Thaisa Hoffmann, empresária e esposa de Virgílio;
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Vinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho;
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Tiago Abraão Ferreira Lopes, diretor da Conafer;
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Cícero Marcelino de Souza Santos, empresário ligado à Conafer;
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Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior, também ligado à Conafer.