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Segunda, 01 de março de 2021 - 10:34:17
Ex-secretário e braço-direito teriam discutido plano de gravação
GRAMPOLÂNDIA PANTANEIRA
Perícia em celular recuperou conversa entre investigados; fonte da Polícia aponta interesse em grampear magistrado

Mensagens extraídas do celular do ex-secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, mostram uma conversa entre ele e o major Michel Ferronato, em 2017, na qual eles discutiriam, em tese, como executar o plano de gravar o desembargador Orlando Perri.

 

Segundo uma fonte da Polícia Civil, ouvida na semana passada pela reportagem, as investigações apontam para o interesse de grampear o magistrado.

 

A transcrição da conversa consta em um relatório elaborado pela força-tarefa da Polícia Civil que investiga as interceptações telefônicas clandestinas que ocorreram entre 2014 e 2015, caso que se tornou conhecido como “Grampolândia Pantaneira”.

 

Durante o período de todas as conversas, Rogers demostra articulações políticas, traz para si a responsabilidade de dar suporte ao grupo político, de forma a blindar o Governo

Segundo a fonte da Polícia Civil, um dos objetivos da conversa entre Jarbas e Ferronato seria atrapalhar as investigações e comprometer o desembargador, que conduzia o inquérito sobre os grampos em Mato Grosso.

 

O esquema resultou na Operação Esdras, que prendeu Jarbas, Ferronato e mais sete pessoas, ocasião em que o celular do ex-secretário foi apreendido. 

 

Ferronato, que era do setor de Inteligência da Sesp e foi apontado nas investigações como “braço direito” de Jarbas, teria sido usado para cooptar e coagir o tenente-coronel José Henrique Costa Soares – então escrivão do Inquérito Policial Militar dos grampos – a ajudar o grupo. 

 

Na conclusão do relatório, a Polícia destaca que durante a análise do celular de Jarbas foram encontrados diversos diálogos de textos trocados entre o investigado e diversos interlocutores.

 

"Durante o período de todas as conversas, Rogers demostra articulações políticas, traz para si a responsabilidade de dar suporte ao grupo político, de forma a blindar o Governo, fica evidente que por diversas vezes tenta atrapalhar a investigação sobre as interceptações ilegais, usa o cargo de Secretário de Segurança Pública para atrair seus pares delegados de Polícia", concluiu.

 

Conversas com major

 

Nas conversas recuperadas pela Polícia Civil, o major informa o investigado que fez uma pesquisa e descobriu que já existia um aplicativo para gravar.

 

“Na última vez, não tinha”, diz Ferronato, em seguida. A conversa ocorreu em 15 de julho de 2017 – cerca de dois meses antes da Operação Esdras ser deflagrada.

 

Veja:

 

 

Na sequência, ambos falam sobre intimações recebidas da Polícia para depor e, horas mais tarde, demonstram ansiedade à espera de algo. “Vou aguardar até mais tarde. Coração na boca”, diz Jarbas. 

 

No dia seguinte, Jarbas manda uma mensagem de áudio ao amigo. O conteúdo não foi recuperado pela perícia, mas Ferronato responde que está “torcendo muito” e “esperando o contato”. 

 

Conforme o relatório, o contato a que o major se refere trata-se do Coronel Soares. 

 

“Chegamos a essa conclusão tendo em vista que na pagina nº 191 do inquerito policial nº 87132/2017, se encontra print da conversa do Major Ferronato e o Coronel Soares, onde o Major Ferronato envia mensagem tentando um encontro entre ambos, mas não obteve resposta naquela data”, diz trecho do relatório. 

 

No dia seguinte, Jarbas questiona o major se há novidades, ao que Ferronato responde: “Infrutífera” e “começo a duvidar”. O ex-secretário então responde: “Meu coração me diz que este abacateiro só é capaz de produzir manga”, recebendo uma resposta de concordância do amigo.

 

Veja:

 

 

 

O relatório ressalta que, no dia anterior a esse último diálogo, o coronel Soares teria procurado as autoridades para delatar o “plano para que gravassem o desembargador Orlando Perri, a fim de colocá-lo como suspeito de relatar o processo”. 

 

Esdras 

 

A Operação Esdras foi deflagrada em 27 de setembro de 2017. Na ocasião, além de Jarbas e Ferronato, também foram presos o ex-secretário de Casa Civil, Paulo Taques; o ex-chefe da Casa Militar, Evandro Lesco; seu adjunto, Ronelson Barros; a esposa de Lesco, Hellen Lesco; o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, Airton Siqueira; o ex-comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa; o coronel Januário Batista; e o cabo Gérson Correa Júnior. 

 

A ação foi baseada no depoimento do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, que teria sido coagido a encontrar provas para colocar em suspeição a atuação do desembargador Orlando Perri no caso dos grampos telefônicos ilegais.

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