As exportações de carne bovina do Brasil para os Estados Unidos dispararam 500% em abril de 2025, mesmo após o governo de Donald Trump impor uma sobretaxa de 10%, elevando o imposto total para 36,4% sobre volumes fora da cota tarifária. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, o Brasil exportou cerca de 48 mil toneladas no mês, frente a apenas 8 mil toneladas em abril do ano anterior.
De janeiro a abril, os americanos já compraram 135,8 mil toneladas, quase cinco vezes mais que no mesmo período de 2024. A explicação, segundo Perosa e o analista Fernando Henrique Iglesias, da consultoria Safras & Mercado, está no baixo nível do rebanho bovino dos EUA — o menor em 80 anos — somado a uma demanda interna elevada, especialmente por hambúrgueres, produto consumido diariamente no país.
"É uma questão cultural. Assim como não se pode pedir a um brasileiro que pare de comer arroz com feijão, não dá para pedir a um americano que deixe de comer hambúrguer", disse Perosa.
Mesmo com o aumento da tarifa, os preços competitivos da carne brasileira tornam o produto atraente. Atualmente, uma arroba do boi gordo custa entre US$ 54 e US$ 55 no Brasil, enquanto nos EUA chega a US$ 120. Iglesias reforça que, mesmo com a sobretaxa, o Brasil “nada de braçada” no mercado norte-americano, devido à diferença de preços.
O Brasil integra um grupo de 10 países que têm direito a uma cota de exportação de 65 mil toneladas com tarifa zero — agora elevada para 10%. No entanto, essa cota costuma ser preenchida já em janeiro, tornando o restante das exportações sujeitas à tarifa cheia de 36,4%.
Segundo Perosa, os EUA são hoje o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Já entre os fornecedores dos EUA, a Austrália lidera, seguida por Canadá, México e Brasil. No entanto, os mercados atendidos são distintos: os australianos abastecem diretamente os supermercados, enquanto o Brasil fornece matéria-prima para a indústria de carne processada.
Mesmo diante das tarifas, a expectativa do setor é de que as vendas brasileiras para os EUA sigam em alta, impulsionadas pela competitividade e pela escassez de oferta local.