O estudo Cartografias da Violência na Amazônia identificou evidências de facções criminosas em 344 dos 772 municípios da Amazônia Legal — um avanço de 32% em relação a 2024, quando eram 260 cidades. A região abrange nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a expansão está ligada ao controle de rotas do tráfico de drogas, com destaque para o Alto Solimões, além de crimes como o garimpo ilegal.
Os pesquisadores mapearam 17 grupos atuantes, entre eles Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC), além de organizações locais e estrangeiras, como o Tren de Aragua (Venezuela) e dissidências das Farc (Colômbia). O CV aparece como o grupo mais influente: tem presença em 286 cidades — sendo hegemônico em 202 e disputando espaço em 84 — alcançando 83% dos municípios onde há facções. Desde 2023, sua atuação cresceu 123%. O PCC, por sua vez, foi identificado em 90 cidades, controlando 31 e enfrentando disputa em outras 59.
A lógica descentralizada do CV, comparada a um modelo de “franquias” nos estados, contribui para o avanço, segundo David Marques, do FBSP. O grupo também busca consolidar rotas de escoamento de drogas pela Amazônia, em contraste com o PCC, que domina a chamada “rota caipira”, passando por Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná rumo a portos exportadores. Para além disso, o CV atua tanto no atacado quanto no varejo do tráfico, exigindo controle territorial mais amplo.
A presença das facções varia conforme a proximidade com fronteiras internacionais. O Acre lidera com registros em 100% de seus 22 municípios; Roraima tem presença em 80% de suas cidades. Mato Grosso registra atuação em 92 dos 141 municípios (65%). Já o Tocantins aparece com o menor índice: 17 de 139 cidades (12%).
O levantamento também mostra indicadores de violência na região: em 2024, foram registradas 8.047 mortes violentas na Amazônia Legal — número ainda 31% acima da média nacional. O Maranhão foi o único estado da região com alta na taxa de homicídios (+11%). Amapá lidera a lista dos estados mais violentos. Conflitos no campo são mais frequentes no Pará e Maranhão. Feminicídios são 19% superiores à média brasileira, e os casos de estupro aumentaram, com 80% das vítimas tendo 14 anos ou menos. As facções também passaram a impor regras de comportamento a mulheres em áreas dominadas. A apreensão de drogas cresceu 21% em 2024 na região.