Foto: Edgar Su/Reuters
Wednesday, 05 de November de 2025 - 13:47:42
Falas do presidente a correspondentes estrangeiros surpreendem aliados e reavivam críticas da oposição
DECLARAÇÕES DE LULA SOBRE “MATANÇA” NO RIO GERAM MAL-ESTAR POLÍTICO

A comemoração de aliados do governo pela escolha de dois nomes técnicos para a CPI do Crime Organizado foi interrompida bruscamente após as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a operação policial no Rio de Janeiro. Durante entrevista a correspondentes estrangeiros, Lula afirmou que a Polícia Federal deveria investigar se houve uma “matança” na ação, sem fazer menções ao trabalho dos agentes envolvidos.

Integrantes da base governista avaliaram que o tom do presidente destoou da postura adotada na primeira reunião da CPI, que havia sido marcada por um esforço de despolitização e reconhecimento do trabalho das forças de segurança. “Foi ruim. O presidente deveria ter dado pelo menos o benefício da dúvida, dizendo que era preciso apurar se houve ou não uma matança”, afirmou, sob reserva, um líder aliado.

As falas de Lula repercutiram rapidamente nas redes sociais, impulsionadas por parlamentares da oposição. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, disse que o presidente “mostrou estar do lado dos traficantes”, relembrando uma declaração anterior em que Lula afirmou que “os traficantes são vítimas dos usuários”. Já o presidente do PP, Ciro Nogueira, afirmou que “houve matança sim: os bandidos mataram quatro policiais e atiraram em vários outros”.

O episódio gerou apreensão no Palácio do Planalto. Segundo levantamento interno, temas relacionados à segurança pública provocaram queda nos índices de avaliação positiva do governo. As menções a “ruim” e “péssimo” na imagem pessoal de Lula cresceram dois pontos percentuais, enquanto a desaprovação ao governo subiu três pontos, revertendo os ganhos registrados em setembro e retornando ao patamar de agosto.

Diante da repercussão negativa, a Secretaria de Comunicação do governo reagiu publicando uma mensagem nas redes oficiais do presidente. No texto, o Planalto ressaltou que o governo federal atua para “quebrar a espinha dorsal do tráfico de drogas e do crime organizado”, listando ações voltadas à integração institucional, fortalecimento da base legal e aprimoramento das investigações. A nota, porém, não fez referência direta à entrevista concedida por Lula.

A oposição pretende explorar o desgaste político das declarações nas próximas sessões da CPI, enquanto aliados tentam minimizar o impacto, afirmando que o presidente apenas defendeu apuração rigorosa dos fatos ocorridos no Rio.

Texto/Fonte: G1