Foto: Celso Tavares/G1
Thursday, 26 de June de 2025 - 14:42:46
Fortuna do 1% mais rico permitiria erradicar a pobreza mundial 22 vezes, aponta relatório
CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA GLOBAL SOB ALERTA

A concentração de riqueza nas mãos da elite global é tamanha que a fortuna acumulada pelo 1% mais rico do planeta seria suficiente para erradicar a pobreza mundial 22 vezes, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (25) pela Oxfam. O estudo, intitulado “Do Lucro Privado ao Poder Público”, foi publicado às vésperas da maior conferência internacional sobre financiamento do desenvolvimento da década, que acontece em Sevilha, na Espanha.

De acordo com a organização, os 3 mil bilionários mais ricos do mundo viram seu patrimônio crescer em US$ 6,5 trilhões entre 2020 e 2023 — o equivalente a 14,6% de todo o PIB global. Enquanto isso, a riqueza pública dos governos avançou apenas US$ 44 trilhões no mesmo período, frente a um salto de US$ 342 trilhões no capital privado global desde 1995.

A Oxfam acusa os governos de priorizarem os interesses de uma minoria bilionária, em detrimento de ações mais efetivas no combate à desigualdade. “Essa concentração extrema está sufocando os esforços para acabar com a pobreza”, declarou Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.

O relatório também denuncia um corte drástico na ajuda humanitária promovido pelos países mais ricos. Os membros do G7, responsáveis por 75% da ajuda oficial global, planejam reduzir seus repasses em 28% até 2026. Estima-se que esse recuo no financiamento possa causar até 2,9 milhões de mortes até 2030, só por causas relacionadas ao HIV/AIDS.

A crise da dívida nos países pobres também é motivo de preocupação. Cerca de 60% dessas nações estão à beira da insolvência, destinando mais recursos ao pagamento de dívidas do que a áreas essenciais como saúde e educação. Os credores, em sua maioria privados, têm se recusado a renegociar os termos.

Apesar desse cenário, uma pesquisa feita em 13 países — incluindo o Brasil — indica que 90% da população apoia a taxação dos super-ricos para financiar serviços públicos e combater a crise climática. Com base nesse apoio popular, a Oxfam propõe:

  • Tributação progressiva sobre grandes fortunas;

  • Investimentos diretos em serviços públicos;

  • Redução da dependência de investidores privados no financiamento do desenvolvimento;

  • Reforma do sistema global de dívidas;

  • Adoção de indicadores além do PIB para medir progresso e bem-estar.

“Trilhões de dólares estão disponíveis, mas nas mãos de poucos”, afirma Behar. “Está na hora de virar a página e colocar o interesse público no centro.”

As propostas serão formalmente apresentadas em 30 de junho, na 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, com a participação de mais de 190 países.

Texto/Fonte: G1