Pelo menos quatro frigoríficos brasileiros suspenderam temporariamente a produção de carne bovina destinada ao mercado norte-americano, após a imposição de novas tarifas pelos Estados Unidos tornar as exportações financeiramente inviáveis. A medida afeta as plantas da JBS, Naturafrig, Minerva Foods e Agroindustrial Iguatemi, segundo informou o sindicato do setor.
De acordo com o vice-presidente do sindicato, Alberto Sérgio Capucci, a decisão tem caráter estratégico e logístico, com o objetivo de evitar o acúmulo de estoques de carne que não poderão ser enviados aos EUA até 1º de agosto, data em que as novas tarifas entram em vigor. “Se eu produzir e enviar carne hoje, a carga chegará aos EUA já com a tributação adicional. A taxação causou inviabilidade financeira para os produtores”, explicou.
Apenas o frigorífico Naturafrig comentou a decisão, informando que cerca de 5% de sua produção era destinada ao mercado americano. Os demais frigoríficos não se manifestaram até o fechamento da reportagem.
Dados da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS) indicam que, em 2025, a carne bovina desossada e congelada representou 45,2% das exportações do estado para os EUA, movimentando mais de US$ 142 milhões.
Estoques e redirecionamento
Segundo o secretário estadual Jaime Verruck, o setor enfrenta agora o desafio de realocar a carne estocada que não poderá ser exportada a tempo. “Eles passam a ajustar suas escalas de produção para buscar a relocação desse produto. Temos, então, um aumento de estoque da carne que seria direcionada aos Estados Unidos”, afirmou. Entre os mercados potenciais, Verruck citou Chile e Egito.
A Associação Brasileira de Exportadores de Carne (Abiec) confirmou a “redução significativa” da produção para o mercado americano e informou que o setor está se reorganizando para ampliar o envio a parceiros tradicionais como China, Sudeste Asiático e Oriente Médio. A entidade também abriu recentemente um escritório na China, com o objetivo de expandir as negociações no mercado asiático.
Queda nas vendas e consequências globais
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% do total exportado, atrás apenas da China, que absorve 48% das vendas. A nova política tarifária, imposta pelo governo Trump, representa um duro golpe para os frigoríficos nacionais, que vinham se beneficiando do custo mais baixo da carne brasileira frente ao boi americano — atualmente com preços até o dobro dos praticados no Brasil devido à queda do rebanho nos EUA.
Apesar do impacto, analistas avaliam que a carne brasileira não deve ser redirecionada ao mercado interno. “Os frigoríficos vão tentar redirecionar esse produto para o mercado internacional para não gerar um efeito tão negativo”, afirma Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados.
A Abiec alertou que o setor está “apreensivo” e acompanha com atenção as negociações diplomáticas para tentar reverter a decisão americana. Enquanto isso, as empresas buscam novos mercados ou intensificam relações já existentes para minimizar os prejuízos causados pela medida.