Uma investigação da Polícia Federal revelou a existência de fábricas clandestinas em São Paulo e Minas Gerais que abasteciam o Comando Vermelho com armamento pesado. As indústrias ilegais produziam milhares de fuzis com equipamentos de alta precisão e operavam sob a fachada de empresas de peças aeronáuticas.
O principal ponto de produção ficava em Santa Bárbara d’Oeste (SP), onde a PF apreendeu 150 fuzis prontos e 30 mil peças para montagem. A estrutura industrial tinha capacidade de fabricar até 3,5 mil armas por ano. Segundo a investigação, Rafael Xavier do Nascimento transportava mensalmente os fuzis para o Complexo do Alemão e outras áreas dominadas por facções no Rio de Janeiro.
As remessas eram organizadas com o apoio de Anderson Custódio Gomes e Gabriel Carvalho Belchior, piloto de avião e dono da empresa de fachada. Belchior teria enviado fuzis desmontados dos Estados Unidos escondidos em caixas de piscinas infláveis. Ele está foragido e incluído na lista da Interpol.
Outro núcleo do esquema operava em Belo Horizonte, liderado por Silas Diniz Carvalho, preso em 2023 com 47 fuzis em seu apartamento na Barra da Tijuca. Sua esposa, Marcely Ávila Machado, também participava da produção. Segundo os investigadores, as fábricas simulavam empresas comuns, como marcenarias, mas abrigavam toda a operação ilícita.
A PF estima que a rede tenha fornecido cerca de mil fuzis para facções do Rio, Bahia e Ceará, incluindo modelos AR-15 calibre 5.56, semelhantes aos apreendidos em recente megaoperação contra o Comando Vermelho.
Dados do Instituto Sou da Paz mostram que o número de fuzis apreendidos no Rio subiu 32% entre 2019 e 2023, evidenciando o crescimento da circulação de armas de guerra no estado.