A presença de helicópteros militares norte-americanos no Caribe reacendeu especulações sobre planos de Washington em relação à Venezuela. As aeronaves pertencem ao grupo de elite conhecido como “Night Stalkers” — o 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais (SOAR), unidade do Exército dos EUA responsável por missões secretas e de alta complexidade.
Criado na década de 1980 e especializado em operações noturnas, o esquadrão ganhou notoriedade em 2011, quando participou da ação que eliminou Osama Bin Laden no Paquistão. Desde então, tornou-se um dos pilares das forças especiais americanas, operando em missões estratégicas de combate ao terrorismo.
Atualmente, os Night Stalkers estão sob o comando do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, responsável pelas operações na América Latina e no Caribe. A unidade utiliza helicópteros como o MH-60 Black Hawk, o MH-47 Chinook e o AH-6 Little Bird, além de drones de reconhecimento e navios de apoio, como o MV Ocean Trader, frequentemente usado como base móvel durante missões sigilosas.
Imagens recentes publicadas nas redes sociais mostraram os helicópteros sobrevoando áreas próximas a plataformas de petróleo e gás no mar do Caribe, próximas à Venezuela. Segundo o jornal The Guardian, autoridades norte-americanas confirmaram que as aeronaves estavam em exercícios de treinamento preparatórios.
A aparição dos Night Stalkers ocorre em um momento de forte tensão entre Washington e o governo de Nicolás Maduro. Nos últimos meses, Donald Trump tem classificado o presidente venezuelano como “narcoterrorista”, justificando a intensificação da presença militar americana na região sob o argumento de combate ao tráfico de drogas.
Para o cientista político Maurício Santoro, do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, o discurso pode ser parte de uma estratégia para legitimar uma futura intervenção. “O governo Trump tenta construir um caso político e jurídico que enquadre uma eventual ação militar como operação antiterrorismo, e não como guerra direta contra outro Estado”, explicou.
De acordo com a imprensa americana, o Pentágono avalia desde setembro uma operação militar na Venezuela, que incluiria ataques a estruturas associadas a cartéis de drogas e teria como objetivo final retirar Maduro do poder.
O Departamento de Justiça já ofereceu recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão do presidente venezuelano, enquanto a Casa Branca anunciou o envio de navios e aeronaves de combate ao Caribe. Após isso, diversos barcos foram bombardeados — segundo os EUA, todos transportavam “narcoterroristas”.
As movimentações militares coincidem com novas revelações sobre o envolvimento da CIA nas ações contra Caracas. Reportagens do New York Times e do Washington Post afirmam que Trump autorizou a agência a realizar operações secretas na Venezuela, com “ações agressivas” direcionadas ao governo de Maduro.
Segundo o Post, um documento confidencial obtido por fontes próximas à Casa Branca não ordena explicitamente a derrubada de Maduro, mas autoriza medidas que podem levar a esse desfecho.
Enquanto Washington insiste que os exercícios aéreos têm caráter de treinamento, especialistas interpretam a presença dos Night Stalkers na região como um sinal claro de preparação para possíveis operações de forças especiais na Venezuela — o que, segundo Santoro, poderia incluir tentativas de captura ou eliminação de figuras do alto escalão do regime de Maduro.