Foto: Ilustrativo
Quarta, 23 de março de 2022 - 14:54:08
Guerra na Ucrânia já tira carne e óleo da mesa do mato-grossense
ECONOMIA / LADEIRA ABAIXO

A retirada da Rússia, Belarus e Ucrânia do comércio mundial de alimentos e insumos já começa a tomar contornos mais sérios nas prateleiras dos supermercados. O boletim do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) desta segunda-feira (21), por exemplo, afirma que o preço da tonelada do óleo de soja aumentou 15%, variação que já está sendo repassada aos supermercados.

O aumento do óleo de soja, explica o Imea, foi causado pela redução da oferta de óleo de girassol no mundo, pois Rússia e Ucrânia respondem por 77% do fornecimento mundial do produto. Com isso, aumentou a demanda pelo óleo de soja brasileiro. 

O mesmo movimento é visto em outros produtos, como óleo de algodão, carnes, combustíveis e fertilizantes, causando efeito nocivo aos bolsos dos consumidores, principalmente aos mais pobres.

Luiz Guilherme Raeder, sócio do Larica’s Time, fast food especializado em frango frito, conta que os aumentos em suas principais matérias-primas - frango, óleo de algodão e gás de cozinha - já espremem a margem de lucro.

“Esse aumento frequente nos preços chega a quase inviabilizar nossa operação. Quando começamos, o óleo de algodão - que é usado nas frituras - custava menos de 175 reais. Hoje, já está em R$ 245 e subindo”, explica, acrescentando que o frango teve aumento de quase 50% no último ano.

A mesma preocupação toma conta das donas de casas, que fazem suas compras mensalmente sem entender diretamente como uma guerra do outro lado do mundo impacta seu cotidiano, mas percebem que o orçamento está cada vez mais ‘espremido’. Dona Maria Carmelinda é cozinheira em uma empresa e responsável pelas compras da cozinha e tem visto os aumentos aparecerem nos supermercados todas as semanas.

Recentemente, ela foi ao mercado e desistiu de comprar carne moída, pois teria que pagar mais de R$ 80 por pouco mais de 2 quilos de proteína. “Está tudo caro. Eu tento comprar o mais barato, mas até os mais baratos também estão caros”, diz ela sobre as compras feitas com o dinheiro da empresa. Quando é para a sua própria casa, a situação é ainda mais difícil. "Tem vezes que eu fico mais de um mês sem comer carne", afirma.

Ao Estadão Mato Grosso, o economista Vivaldo Lopes explica que os alimentos já estavam sofrendo altas por vários fatores, como a quebra da cadeia de insumos, dificuldade em locação de navios, falta de contêineres e demais problemas logísticos causados pela pandemia. No entanto, a situação tende a piorar ainda mais com a guerra no Leste Europeu.

Os três países envolvidos no conflito têm um peso significativo no fornecimento de petróleo, trigo, milho e fertilizantes, além de minerais.

“Rússia, Ucrânia e Bielorrússia (Belarus) são grandes fornecedores de alimentos do mundo todo. Com esses três países fora do mercado, afeta o comércio todo”, afirma.

Vivaldo ainda aponta que os países que possuem esses alimentos estão segurando seus estoques, como a Argentina e Canadá, que também são grandes fornecedores de trigo.

O economista também afirma que os aumentos nos supermercados, apesar de pesarem no bolso, têm ocorrido em proporção menor do que o custo dos empresários.

“Ainda não repassou totalmente esses aumentos. Eles estão vindo devagar, até porque as empresas não podem passar abruptamente. Numa situação que a gente está, a inflação alta, uma economia crescendo 0%, você dar um aumento de preços muito forte espanta o consumidor, que já está sem condições de comprar”, pontua.

É o que tem feito o empresário Luiz Guilherme, que teme perder clientes se repassar o aumento de até 60% no custo do frango - acumulado no último ano - para seus consumidores.

“Temos tentado ao máximo não repassar esses aumentos para o consumidor, o que é muito difícil. Estamos espremendo as margens e buscando novas formas de venda com custo menor”, disse. “Hoje estamos operando só para cobrir os custos enquanto rezamos por dias melhores”, concluiu.

Texto/Fonte: Estadão Mato Grosso