Foto: Divulgação Foresea
Wednesday, 22 de October de 2025 - 07:35:59
Ibama autoriza perfuração exploratória da Petrobras após uma década de impasse
EXPLORAÇÃO NA FOZ DO AMAZONAS

A Petrobras recebeu autorização do Ibama para realizar a perfuração de um poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas, marcando o início de uma nova fase de pesquisas na Margem Equatorial. A licença, concedida após mais de dez anos de análises e revisões, permite apenas a etapa de exploração, com o objetivo de verificar a existência de petróleo e gás na região — não a extração.

A perfuração ocorrerá no bloco FZA-M-059, localizado a 175 km da costa do Amapá e a 500 km da foz do Rio Amazonas, em uma área de águas profundas. A Petrobras estima que o trabalho dure cerca de cinco meses. Durante esse período, serão coletados dados geológicos para avaliar o potencial energético da região.

A Margem Equatorial é considerada uma das novas fronteiras estratégicas para o setor de petróleo e gás brasileiro. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o local pode abrigar reservas de até 10 bilhões de barris — volume capaz de elevar a produção nacional e garantir autossuficiência até 2030. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a Bacia da Foz do Amazonas, sozinha, possa conter 6,2 bilhões de barris de óleo equivalente.

A perfuração será realizada com a sonda NS-42, um navio de 238 metros de comprimento alugado por cerca de R$ 4 milhões por dia. O equipamento utiliza tecnologia semelhante à do pré-sal, capaz de operar em profundidades de até 12,1 mil metros. O projeto estava paralisado desde agosto, à espera da liberação ambiental.

O aval do Ibama foi concedido após a Petrobras revisar planos e reforçar protocolos de segurança ambiental. Segundo a estatal, a operação cumpre todos os requisitos e demonstra “robustez na estrutura de proteção ao meio ambiente”. A empresa defende que novas áreas de exploração são essenciais para garantir a segurança energética e financiar a transição para fontes renováveis.

Apesar disso, a aprovação gerou forte reação entre ambientalistas. O Observatório do Clima classificou a decisão como uma “dupla sabotagem” — ao planeta e à COP30, que será sediada pelo Brasil. Para o climatologista Carlos Nobre, a medida ignora o risco de colapso ecológico na região. “A Amazônia está muito próxima do ponto de não retorno. Não há justificativa para novas explorações de petróleo”, criticou.

A concessão também teve reflexo no mercado financeiro. No dia do anúncio, as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) caíram 0,54%, e as preferenciais (PETR4) recuaram 0,74% no dia seguinte. Analistas apontam que o impacto foi limitado, já que o aval era esperado. A queda no preço internacional do barril de petróleo — cotado a US$ 61,63 — também contribuiu para o recuo.

O ministro Alexandre Silveira estimou que a Margem Equatorial pode receber R$ 300 bilhões em investimentos e gerar até R$ 1 trilhão em arrecadação nas próximas décadas. Um estudo do Observatório Nacional da Indústria prevê que, se a produção chegar a 100 mil barris diários, o PIB do Amapá poderá crescer em R$ 10,7 bilhões, com a criação de mais de 50 mil empregos.

Antes que a Petrobras possa iniciar a produção, será preciso comprovar a presença de petróleo em volume comercial, declarar a viabilidade econômica do campo e obter novas licenças ambientais para instalação e extração. Até lá, a Foz do Amazonas permanece como uma promessa energética cercada por dúvidas ambientais e políticas.

Texto/Fonte: G1