O Inep acionou a Polícia Federal para investigar possíveis irregularidades após detectar “similaridades pontuais” entre questões presentes no Enem 2025 e itens que circulavam nas redes sociais. Embora nenhuma pergunta tenha sido reproduzida de forma idêntica, o instituto decidiu anular três delas — cujos conteúdos ainda não foram divulgados — e instaurou apuração sobre eventual quebra de sigilo ou má-fé.
Os rumores de vazamento começaram na noite de segunda-feira (17), um dia após a aplicação das provas de matemática e ciências da natureza. A discussão ganhou força quando, em 11 de novembro — cinco dias antes do segundo dia de exames — o professor e influenciador Edcley Teixeira exibiu, em uma live no YouTube, ao menos cinco questões quase iguais às cobradas oficialmente, algumas com números idênticos. Apostilas do curso dele, obtidas pelo g1, também apresentavam uma sexta questão semelhante, sobre tijolos.
Edcley alega que não houve vazamento e que as previsões foram feitas “dentro dos parâmetros legais”, defendendo que apenas buscava democratizar o acesso ao conhecimento. Ele diz ter utilizado, entre outras estratégias, a memorização de questões do Prêmio CAPES Talento Universitário, uma prova opcional voltada a estudantes do primeiro ano da graduação. Segundo ele, perguntas desse prêmio serviriam como “pré-teste” para futuras edições do Enem — algo não confirmado pelo Inep.
Postagens do MEC mostram que Edcley participou da edição de 2025 do prêmio e foi um dos vencedores. Ex-colegas e ex-alunos afirmam que ele estimulava estudantes a decorar questões do Talento Universitário, apostando na reutilização dos itens. O professor diz ter chegado a essa conclusão após ler o livro O Roubo do Enem, de Renata Cafardo, embora a autora afirme que a obra explica apenas o funcionamento dos pré-testes e não menciona vínculo com a CAPES.
Em outros conteúdos, Edcley recua, afirmando que “não existe isso da CAPES” e atribui seus acertos a técnicas mais sofisticadas, que incluiriam algoritmos próprios e análises da Teoria de Resposta ao Item (TRI), estudadas por ele ao longo de uma década. Ele também afirma ter examinado chamadas públicas com nomes de elaboradores e revisores do Enem, pesquisando artigos científicos e linhas de pesquisa desses profissionais.
No Instagram, Edcley declarou que o exame segue padrões previsíveis e que o número reduzido de elaboradores permitiria antecipar tendências: segundo ele, cerca de 25 especialistas participam da formulação do Enem desde 2009.
A Polícia Federal agora conduz a investigação para esclarecer se houve violação de sigilo ou apenas coincidências decorrentes de estudos e predições sobre o estilo da prova.