Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Thursday, 13 de November de 2025 - 17:46:12
Investigação revela propina a deputado e amplia suspeitas sobre rede de fraudes envolvendo Conafer
DESVIOS NO INSS

As apurações da Polícia Federal avançaram sobre a participação do deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) no esquema de desvios ligados à Conafer. Em conversas acessadas pelos investigadores, ele aparece identificado como “Herói E”, apelido usado em diálogos entre operadores do grupo. Em uma dessas mensagens, Vinícius Ramos promete a Cícero Marcelino — assessor da entidade — levantar informações sobre pagamentos relacionados ao parlamentar, repassando depois dados da empresa Fortuna Loterias.

Pettersen declarou ao g1 que não teve acesso à decisão judicial e negou qualquer envolvimento. Ele já havia sido apontado como voz política da Conafer no Congresso. A investigação suspeita que o deputado vendeu uma aeronave ao presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), entidade ligada à confederação, ao mesmo tempo em que direcionava emendas parlamentares para o instituto. Parte desses recursos, segundo os investigadores, teria retornado para empresas próximas à própria Conafer por meio de licitações fraudulentas.

O caso também atinge o ex-ministro da Previdência Ahmed Mohamad Oliveira — antes chamado José Carlos Oliveira — que comandou a pasta durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a PF, Ahmed teria autorizado repasses irregulares tanto no período em que foi diretor de benefícios do INSS quanto quando assumiu o Ministério do Trabalho e Previdência. Documentos apreendidos registram pagamentos de R$ 100 mil identificados como destinados a “São Paulo Yasser”, apelido atribuído a ele. Há ainda mensagens de WhatsApp enviadas a Cícero Marcelino que indicariam agradecimentos após o recebimento de valores.

Os investigadores afirmam que uma decisão de Ahmed liberou R$ 15,3 milhões à Conafer sem comprovação das filiações exigidas pelo acordo de cooperação vigente. A liberação teria permitido a ampliação da fraude, com a inclusão de mais de 650 mil benefícios de aposentados e pensionistas.

As suspeitas também recaem sobre o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, preso nesta quinta-feira. A PF diz que ele recebia até R$ 250 mil mensais do grupo criminoso, que utilizava empresas de fachada — e até uma pizzaria — para efetuar o pagamento das propinas. Para os investigadores, Stefanutto era peça central para manter o funcionamento do esquema, cuja base estava em um acordo firmado com o INSS em 2017.

A investigação estima que a Conafer desviou mais de R$ 640 milhões entre 2017 e 2023, valor que não inclui outras entidades também sob apuração. O esquema utilizava falsificação de fichas de filiação, inserção de dados fraudulentos nos sistemas do INSS e coleta de assinaturas sob pretexto de desligar aposentados de convênios — documentos que eram usados, na verdade, para autorizar descontos indevidos.

O Jornal Nacional exibiu como funcionava o processo irregular, reforçando a dimensão da fraude que atingiu aposentados e pensionistas em todo o país.

Texto/Fonte: G1