Foto: Reprodução/Fantástico
Monday, 01 de September de 2025 - 17:25:28
Investigação revela rede de postos, usinas e fundos da Faria Lima usados para lavagem de dinheiro da facção
PCC NO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal expuseram a rotina de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) em um esquema que unia armas e combustível adulterado. Em conversas, um dos criminosos chegou a resumir a cena: “Pistola na cintura e diesel, pai, a imagem do posteiro é essa aí”. O grupo teria montado uma engrenagem complexa para fraudar combustíveis e movimentar bilhões de reais por meio de empresas de fachada, fintechs e até fundos de investimento.

A operação mostrou que a facção controlava cerca de 1,2 mil postos em todo o Brasil, onde fiscais da Agência Nacional do Petróleo encontraram gasolina com até 50% de metanol e etanol com até 90% da substância. Segundo especialistas, o metanol é altamente tóxico e pode provocar cegueira e falência de órgãos.

O caminho do dinheiro sujo começava no Porto de Paranaguá (PR), com a entrada clandestina de produtos químicos como nafta e metanol. Dali, os insumos eram desviados para abastecer usinas endividadas adquiridas pelo grupo no interior paulista. Essas usinas, além de produzirem etanol adulterado, também serviam para lavar capital ilícito — chegando a pagar até 43% acima do valor de mercado pela cana.

Distribuidoras como a Duvale, em Jardinópolis (SP), que não tinham registro de faturamento até 2019, movimentaram quase R$ 800 milhões apenas em 2021. Parte desse dinheiro foi rastreada até Rafael Renard Gineste, detido quando tentava escapar de lancha em Santa Catarina. O transporte era feito por caminhões da G8 Log, empresa ligada a Mohamed Hussein Murad, o “Primo”, que mantinha perfil motivacional nas redes sociais da transportadora enquanto comandava os desvios.

O esquema financeiro incluía a movimentação de recursos em contas de “bolsão”, utilizadas por fintechs como a BK Instituição de Pagamento, que sozinha geriu R$ 46 bilhões em cinco anos. O ciclo se completava na Faria Lima, onde 42 fundos de investimento administrados por gestoras ligadas à facção chegaram a somar R$ 30 bilhões, hoje bloqueados pela Justiça. Para a força-tarefa, o arranjo criou “um verdadeiro paraíso fiscal” dentro do país.

Apesar das prisões, parte dos investigados continua foragida, entre eles Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como “Beto Louco” e apontado como o maior adulterador de combustíveis do Brasil. A defesa dele nega ligação com o PCC. Promotores destacaram que a operação envia um recado direto ao crime organizado: “O Estado mostrou que não é mais possível tolerar facções desafiando a sociedade brasileira”.

Texto/Fonte: G1