Foto: Reprodução/Decisão do STJ
Thursday, 04 de September de 2025 - 16:50:03
Investigados tiraram selfies com dinheiro e chamavam propina de “bênção”
INVESTIGAÇÃO APONTA PROPINA COMO “BÊNÇÃO” EM ESQUEMA NO TOCANTINS

A Polícia Federal identificou que integrantes de um suposto esquema de corrupção no Tocantins se referiam aos pagamentos indevidos como “bênçãos”. Em diálogos obtidos pela investigação, Wilton Pires enviou fotos de pilhas de dinheiro a seu irmão Paulo César Lustosa, combinando a entrega de valores em espécie.

Em uma das imagens, Marcus Vinícius Santana, filho de Taciano Darcles — ex-assessor especial do governador —, aparece com uma bolsa cheia de notas de R$ 50, R$ 100 e R$ 200. As fotos foram registradas dentro de um carro e também em um gabinete, onde, segundo o ministro do STJ, Marcus atuava como “operador financeiro” de Wanderlei Barbosa. Ele era responsável por transferências bancárias e saques que depois eram entregues em espécie a Taciano Darcles ou a Thiago Barbosa, sobrinho do governador.

O relatório da investigação detalha que o dinheiro desviado era usado para pagar propina ao governador e aos demais envolvidos, bem como para quitar despesas pessoais de Barbosa. O ministro ressaltou que a organização criminosa adotava métodos para camuflar e dificultar o rastreamento dos atos de recebimento e distribuição das vantagens indevidas.

Durante a primeira fase da Operação Fames-19, em agosto de 2024, mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços do governador, incluindo seu gabinete no Palácio Araguaia. Na ocasião, foram encontrados R$ 32,2 mil em espécie, além de R$ 35,5 mil, US$ 1,1 mil e 80 euros no escritório particular de Wanderlei. Segundo a PF, a movimentação de grandes quantias reforça a convicção de que atos de corrupção passiva ocorreram na sede do Poder Executivo estadual.

A segunda fase da Operação Fames-19 busca levantar mais evidências sobre o uso de emendas parlamentares e o recebimento de vantagens indevidas durante a compra de cestas básicas na pandemia de Covid-19. Estão sendo apurados crimes como frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Entre 2020 e 2021, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, com prejuízo estimado aos cofres públicos superior a R$ 73 milhões. Valores desviados teriam sido ocultados com compra de gado, construção de empreendimentos de luxo e despesas pessoais.

O governador Wanderlei Barbosa foi afastado do cargo por 180 dias pelo STJ, assim como a primeira-dama Karine Sotero Campos, que também ocupava cargo público. Em nota, Barbosa disse que a medida é “precipitada” e que os fatos ocorreram quando ele era vice-governador, não sendo ordenador de despesas. A primeira-dama afirmou que irá comprovar sua total ausência de participação nos fatos.

A defesa de Thiago Barbosa afirmou que a menção ao seu nome na decisão foi um “absoluto equívoco” e que ele não é investigado na Operação Fames-19, adotando providências para que seu nome seja excluído do processo. A Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) informou que colabora com as investigações, enviando informações aos órgãos de controle.

A defesa do ex-governador Mauro Carlesse também se manifestou, destacando que ele não figura como investigado ou réu e confia no esclarecimento dos fatos pelas instituições competentes. Até o momento, o g1 não conseguiu contato com as defesas de Marcus Vinícius Santana, Taciano Darcles, PC Lustosa e Wilton Pires.

Texto/Fonte: G1