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Domingo, 26 de julho de 2020 - 17:16:58
IZA desabafa sobre padrões de beleza e autoestima: 'A gente aprende que nosso cabelo não é aceito pela sociedade'
CURIOSIDADES
Ao lado de Djamila Ribeiro, cantora participou do 'Altas Horas' em um papo sobre racismo e empatia

Hoje ela é reconhecida como uma diva da música pop brasileira, mas quem vê IZA esbanjando poder em seus shows e clipes pode não imaginar que, antes da fama, ela viveu as mesmas questões que qualquer menina negra brasileira. No Altas Horas, a cantora bateu um papo com Serginho Groisman e Djamila Ribeiro em que dividiu suas experiências de vida em relação ao racismo e falo do processo de construção de sua autoestima em meio aos padrões de beleza instituídos na sociedade.

IZA fala sobre padrões de beleza e autoestima

 

 

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IZA fala sobre padrões de beleza e autoestima

Esbanjando um poderoso black que deixa evidente o orgulho que sente das suas raízes, IZA contou que nem sempre foi assim.

 

"A gente aprende que nosso cabelo não é aceito pela sociedade, que tem alguma coisa de errado e você tem que consertar, e é isso. Eu passei grande parte da minha vida alisando o cabelo e tenho certeza de que isso faz parte da realidade de muitas meninas negras."

 

Depois de anos alisando os cabelos, IZA assumiu seus fios crespos — Foto: Reprodução/Instagram

Depois de anos alisando os cabelos, IZA assumiu seus fios crespos — Foto: Reprodução/Instagram

Exemplo de beleza e representatividade para a geração de meninas que podem crescer vendo alguém parecida com elas em uma posição de destaque na mídia e no meio artístico, a cantora lembrou situações que passou ao longo da infância e adolescência. "Isso é muito doloroso. Pensar, por exemplo, que eu me submeti à química capilar aos 12 anos como uma tentativa de deixar de ser alvo dos comentários racistas que ouvia na escola", contou ela, celebrando o fato de, hoje em dia, cada vez mais meninas se sentirem bem com as suas aparências, sem se submeter aos padrões estéticos tão cruéis impostos na sociedade.

 

"É impagável você andar na rua, ver uma outra menina de cabelo crespo e ela sorrir para você sem nem se conhecer. A gente acaba se ajudando nesse sentido."

 

 

"Acho lindo quando vou no 'Altas Horas' e vejo todas elas e eles muito orgulhosos. Porque é dessa forma que temos que nos olhar mesmo, com orgulho, porque não tem nada de errado. A gente é muito bonito sim."

 

IZA incentiva que meninos e meninas tenham orgulho de suas raízes negras — Foto: Reprodução/Instagram

IZA incentiva que meninos e meninas tenham orgulho de suas raízes negras — Foto: Reprodução/Instagram

A cantora, que recentemente lançou a música "Let me be the one" (Deixe-me ser aquele que faz a diferença, em tradução livre) em parceria com o rapper norte-americano Maejor como parte de uma campanha da ONU para a promoção da diversidade e dos direitos humanos, afirmou que pretende sempre usar a sua voz a favor de causas que considere relevantes. "Como Nina Simone falou, precisamos aprender que temos um dever, que nosso microfone é uma arma, que precisamos refletir os tempos que a gente vive", disse.

 

"Nossa música é imortal. Muitas pessoas vão estudar a história do nosso país através da nossa arte, então acho que esse é o nosso trabalho."

 

IZA e Maejor no clipe de 'Let Me Be The One' para campanha da ONU — Foto: Divulgação

IZA e Maejor no clipe de 'Let Me Be The One' para campanha da ONU — Foto: Divulgação

 

Filósofa avalia o contexto brasileiro

 

Durante o papo, a filósofa Djamila Ribeiro, grande estudiosa do feminismo negro no país, ressaltou que o Brasil, apesar de se ver como um país que respeita a diversidade, tem uma história com o racismo que se estende até os dias de hoje. "Por não termos tido um apartheid institucionalizado por leis, criou-se uma ideia de que não era um país racista, quando é uma sociedade extremamente segregada. É só a gente olhar a cor das pessoas que vivem nas periferias e a das que vivem nos bairros ditos como nobres no Brasil", explicou.

 A filósofa Djamila Ribeiro fala sobre racismo no 'Altas Horas' — Foto: Globo

A filósofa Djamila Ribeiro fala sobre racismo no 'Altas Horas' — Foto: Globo

 

"É uma país que teve três séculos de escravidão. A gente precisa conhecer a origem social das desigualdades no Brasil para entender como esses abismos sociais foram construídos historicamente."

 

Djamila Ribeiro reflete sobre o racismo velado no Brasil

 

 

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Djamila Ribeiro reflete sobre o racismo velado no Brasil

Ela destacou que, para evoluirmos como sociedade, é preciso que todos exercitem a empatia de se colocar no lugar de quem mais sofre com o racismo. "Acho necessário entender que esse é um problema da sociedade brasileira, não diz respeito só à população negra. É muito importante as pessoas brancas se informarem sobre a questão racial no Brasil, entenderem por que ele é da forma que é, porque aí vão entender que não é 'mimimi'. Existem desigualdades colocando pessoas negras numa situação que lhes confere menos oportunidades", disse.

 

"É muito importante o exercício de conhecer a história do Brasil, ler sobre essa questão, porque isso vai orientar ações antirracistas. E, sobretudo, também ter a humildade de se colocar no lugar de escuta, porque muitas vezes estamos mais preocupados com a nossa imagem do que com a dor que causamos nas outras pessoas."

 

'Altas Horas' com IZA e Djamila Ribeiro  — Foto: Globo

'Altas Horas' com IZA e Djamila Ribeiro — Foto: Globo

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