Foto: Reuters e AFP
Monday, 24 de November de 2025 - 16:16:22
Japão Mobiliza Mísseis Perto De Taiwan E Agrava Crise Com A China
TENSÃO REGIONAL NA ÁSIA-PACÍFICO

A decisão do governo japonês de mobilizar uma unidade de mísseis superfície-ar de médio alcance na ilha de Yonaguni, a cerca de 110 km de Taiwan, aprofundou a crise diplomática com a China. O anúncio, feito no domingo, provocou repúdio imediato de Pequim nesta segunda-feira (24), que acusou Tóquio de “provocar confronto militar” em uma região já marcada por disputas estratégicas.

A medida ocorre em meio à política externa assertiva da primeira-ministra Sanae Takaichi, que incluiu Taiwan na estratégia de segurança nacional do Japão. A China considera a ilha parte de seu território e não descarta o uso da força para assumir o controle da região, enquanto Taiwan insiste que apenas sua população pode definir o futuro da ilha.

Pequim reagiu duramente à mobilização. A porta-voz Mao Ning, do Ministério das Relações Exteriores chinês, classificou o envio de armamentos para o Sudoeste japonês como “uma ação deliberada que alimenta tensões regionais”. Segundo ela, as declarações recentes de Takaichi sobre Taiwan — que Pequim exige que sejam retratadas — tornam o movimento ainda mais perigoso, colocando em alerta países vizinhos e a comunidade internacional.

A resposta japonesa veio após o país acionar caças militares diante do voo de um drone chinês entre Taiwan e Yonaguni dias antes. O ministro da Defesa, Shinjiro Koizumi, afirmou que os preparativos para a instalação dos mísseis avançam “de forma constante”.

As tensões escalaram rapidamente desde o encontro entre Takaichi e Xi Jinping, em 31 de outubro, durante a cúpula da Apec na Coreia do Sul. Apesar de ambos terem concordado em buscar relações “construtivas e estáveis”, as semanas seguintes foram marcadas por protestos diplomáticos, declarações hostis, críticas públicas, gestos militares e até suspensão de produtos culturais e alimentos entre os dois países.

A crise se agravou após Takaichi afirmar ao Parlamento, em 7 de novembro, que um eventual ataque chinês a Taiwan poderia ser tratado como “uma situação que ameaça a sobrevivência do Japão”, termo que permite a mobilização das Forças de Autodefesa.

A retaliação de Pequim ganhou força com ataques retóricos da mídia estatal, pressões econômicas, orientações de risco a cidadãos chineses no Japão e ações navais nas Ilhas Senkaku — administradas pelos japoneses e disputadas pelos chineses. Também houve suspensão de importações de frutos do mar e de negociações sobre carne bovina japonesa, além do cancelamento de um encontro cultural trilateral com Coreia do Sul e Japão.

No fim da semana, a situação ganhou novo simbolismo quando o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, publicou fotos comendo sushi para demonstrar apoio ao Japão no embate diplomático.

A sequência de episódios — que vai de 31 de outubro a 20 de novembro — mostra como a relação entre China e Japão voltou a um dos seus piores momentos em anos, com efeitos regionais e potenciais reflexos na estabilidade da Ásia-Pacífico.

Texto/Fonte: G1