Foto: Reuters/Stephane Mahe/Pool
Monday, 06 de October de 2025 - 11:04:52
Lecornu renuncia após 26 dias como premiê e agrava instabilidade no governo Macron
CRISE POLÍTICA NA FRANÇA

O primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (6), apenas 26 dias após assumir o posto. A decisão foi comunicada poucas horas depois de o gabinete do presidente Emmanuel Macron anunciar uma nova composição ministerial. Lecornu justificou a saída dizendo que a intransigência dos partidos políticos impediu a formação de um governo coeso.

“A composição do governo não foi tranquila e despertou certos apetites partidários — às vezes, de forma legítima, ligados à próxima eleição presidencial. Eu estava pronto para ceder, mas cada partido queria que o outro adotasse todo o seu programa”, afirmou o premiê no Palácio de Matignon, sede do governo francês.

A renúncia aprofunda a crise política que atinge o governo Macron, já enfraquecido por impasses no Parlamento e pela deterioração econômica do país. A França é hoje o país mais endividado da União Europeia em termos absolutos. O presidente ainda não se pronunciou oficialmente, mas deverá decidir entre três caminhos: nomear um novo primeiro-ministro, convocar eleições legislativas antecipadas ou, em um cenário remoto, renunciar ao cargo.

Lecornu, de 39 anos, foi o ministro da Defesa mais jovem da história da França e um dos idealizadores do plano de reforço militar até 2030, em resposta à guerra entre Rússia e Ucrânia. Ex-membro do campo conservador, aderiu ao movimento centrista de Macron em 2017 e ganhou destaque durante a crise dos “coletes amarelos”, quando atuou na mediação de protestos populares.

A renúncia ocorre uma semana após a queda do governo de François Bayrou, derrotado em um voto de confiança no Parlamento. Com o colapso político sucessivo, líderes de oposição exigem medidas imediatas.

A deputada de extrema direita Marine Le Pen, do partido Reunião Nacional (RN), pediu a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de novas eleições legislativas. “Chegamos ao fim da piada. A farsa já durou tempo demais”, declarou à emissora BFM.

Já Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa (extrema esquerda), anunciou que vai apresentar uma moção de impeachment contra Macron. “Após a renúncia de Lecornu, pedimos a consideração imediata da moção apresentada por 104 deputados”, afirmou em nota publicada nas redes sociais.

O ministro do Interior, Bruno Retailleau, também cobrou explicações do presidente sobre o futuro político do país.

Diante do impasse, Macron enfrenta um dilema: nomear um sucessor de perfil conciliador, arriscar uma nova eleição que pode fortalecer a extrema direita, ou tentar manter o governo interino enquanto busca recompor sua base parlamentar.

Texto/Fonte: G1