Após um período de aparente sintonia na reorganização da base governista na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltaram a se desentender por causa do projeto da Lei Antifacção.
A equipe do Palácio do Planalto acusa Motta de deslealdade ao indicar o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) — secretário de Segurança de São Paulo e aliado de Tarcísio de Freitas, possível adversário de Lula em 2026 — para relatar a proposta. Segundo interlocutores do governo, entregar a condução de um projeto estratégico de segurança pública a um nome ligado à oposição foi interpretado como provocação política.
O próprio presidente Lula teria reclamado pessoalmente com Motta sobre a escolha. Auxiliares do Planalto sustentam que o presidente da Câmara tem feito um “jogo duplo”, ora apoiando o governo, ora se alinhando à oposição.
Motta, por sua vez, nega qualquer motivação partidária e afirma que sua função é dialogar com todas as forças políticas da Casa. Ele defende uma análise técnica do texto e anunciou que o projeto passará a ser chamado de Marco Legal do Combate ao Crime Organizado.
Em mensagem publicada no domingo (9), o presidente da Câmara disse que “não importa de onde a ideia vem, se ela é boa para o país, a gente leva adiante”. Ele afirmou ainda que o novo texto deve reunir pontos do projeto enviado pelo governo federal e de propostas debatidas no Congresso, buscando — nas palavras dele — “o melhor dos dois lados, sem perder a soberania”.
Apesar do tom conciliador, a disputa em torno da relatoria reacendeu a tensão entre Planalto e Câmara em um momento em que o governo tenta consolidar apoio para projetos prioritários antes do fim do ano legislativo.