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Sábado, 11 de fevereiro de 2023 - 19:29:12
Lula afina discurso com Biden, mas resultados concretos decepcionam
POLÍTICA INTERNACIONAL
Presidente garantiu compromisso do chefe americano de enviar recursos ao Fundo Amazônia, mas aporte inicial frustrou comitiva; especialista ouvido pela Jovem Pan diz que investimento só deve surtir efeito a longo prazo

Com pouco mais de um mês de governo desde que tomou posse para seu terceiro mandato à frente do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajou aos Estados Unidos para um encontro com Joe Biden, chefe de Estado norte-americano. Em reunião bilateral nesta sexta-feira, 10, os presidentes alinharam seus discursos em torno da proteção ao meio ambiente e em defesa da democracia. Após a agenda, o governo governo anunciou a intenção da Casa Branca de investir US$ 50 milhões no Fundo Amazônia, criado em 2008 para financiar projetos de redução do desmatamento e fiscalização do bioma. O valor frustrou integrantes da comitiva brasileira. Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, João Estevam, professor de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi (UAM), destacou que o petista já havia deixado claro antes de assumir como chefe do Executivo de que esta seria sua prioridade a do Itamaraty ao longo dos próximos quatro anos.

“Por enquanto, não é um volume de investimento muito alto, mas existe a perspectiva de que negociações futuras venham a aumentar esse valor. Os Estados Unidos podem contribuir com outros valores por meio de outros mecanismos, mas ainda não há certeza sobre”, analisou. Questionado sobre a efetividade do encontro e quais benefícios a reunião bilateral poderia trazer para a população brasileira, o docente pontuou que, em razão do montante inicialmente disponibilizado, não é possível ter grandes expectativas. “Existe, porém, a questão simbólica de que os Estados Unidos agora se juntam a esse projeto, mas com a possibilidade dos Estados Unidos ou de outros governos de destinarem recursos para obras na região. Principalmente ações que privilegiem a proteção do meio ambiente. Sabemos que existem importantes negociações políticas, então é importante ter em mente de que essas negociações deverão ser feitas com cuidado e, provavelmente, os resultados não vão ser vistos no curto prazo. Haverá respaldo na realidade no médio e longo prazo”, pontuou antes de ressaltar que a medida é positiva para a região, mas que isso exigirá uma grande capacidade de articulação e vontade política dos países envolvidos.

No passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) levantava suspeitas sobre a participação de outros países no gerenciamento de fundos para a Amazônia e afirmava que as ações poderiam minar a autonomia sobre as terras brasileiras. O professor opinou que, caso os projetos sejam realizados de forma a entregar os mecanismos de fiscalização à sociedade brasileira através do governo federal, a perda de autonomia não será realizada. “O Brasil, durante todos esses anos, mais de duas décadas, ele tem se constituído como um personagem importante no debate climático e ambiental, então quando falamos do Brasil, falamos de um país com uma capacidade de ação política seja forte. Creio que essa opção de inviabilidade de autonomia estratégica não será totalmente realizada, porém, como falamos, tudo depende da capacidade de negociação dos projetos a serem realizados”, analisou. João também relembrou que a Colômbia já demonstrou um apoio a uma realização de parcerias regionais na Amazônia, assim como outros países já sinalizaram que desejam contribuir com investimentos, ou seja, a depender da capacidade de organização brasileira a nível regional e federal, é possível que os recursos contribuem para a preservação da região, não apenas em solo brasileiro, mas em toda a área que constitui a floresta.

Já no entendimento de Paulo Velasco, especialista em relações internacionais, as ações do presidente Lula neste início de mandato revelam a intenção de se colocar como um líder global após realizar diversos encontros presidenciais ao longo destes pouco mais de 30 dias à frente do Planalto. Em um mês e 11 dias, o petista já se encontrou com o presidente da Argentina, Alberto Fernandez; com o mandatário do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou; com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz; e agora com o líder da Casa Branca e presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “O antigo presidente se permitia divergir de maneira mais aguda das potências europeias. Com Lula, vemos uma tentativa de afinar mais o discurso. Lula tenta, de alguma maneira, replicar uma política externa que aplicou nos anos 2000 em que tentava atuar como uma espécie de liderança global e fazer do Brasil um país com maior peso e envergadura internacional”, pontuou. O analista, no entanto, seguiu o mesmo entendimento de João Estevam e afirmou que o resultado prático da reaproximação entre Brasil e Estados Unidos, bem como das doações realizadas ao Fundo Amazônia de US$ 50 milhões, deverão ser significativamente sentidos no médio e longo prazo. Ainda que ambos os países compartilhem de pautas ambientais, não é somente a questão do desmatamento que ascende um alerta aos petistas e democratas, que comandam os governos federais brasileiros e norte-americanos. “Temos questões correlatas, como criminalidade no espaço amazônico, mineração ilegal, garimpo ilegal, e são problemas sérios que precisam ser combatidos com uma atuação firme e contundente. Contar com o apoio dos Estados Unidos nessa frente é muito importante”, frisou o especialista.

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Texto/Fonte: Por Jovem Pan