O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (9) que o Brasil pretende buscar negociações com os Estados Unidos diante da nova tarifa de importação anunciada por Donald Trump, mas reforçou que o país reagirá com base na Lei da Reciprocidade se as medidas entrarem em vigor em 1º de agosto. Ele também criticou o que chamou de “ingerência inaceitável” de Trump sobre decisões internas do Judiciário brasileiro.
Lula acusou o presidente americano de tentar influenciar investigações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro e rebateu a justificativa para o aumento da tarifa, classificando como “mentirosa” a alegação de que os EUA têm déficit comercial com o Brasil. “Os Estados Unidos são superavitários. Nos últimos 15 anos, o Brasil teve déficit de R$ 410 bilhões com os americanos”, argumentou.
Em entrevista à TV Globo, Lula destacou que o Brasil recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC) e buscará diálogo com outros países afetados antes de adotar medidas retaliatórias. “Nós não queremos brigar com ninguém. Queremos negociar. Mas também queremos respeito”, afirmou.
Brics e tensão geopolítica
Lula rejeitou a ideia de que as declarações feitas durante a cúpula dos Brics tenham provocado a reação de Trump. Segundo ele, o bloco é um fórum legítimo que busca fortalecer o Sul Global e discutir alternativas para um comércio menos dependente do dólar. “Nós não temos máquina de imprimir dólar. Precisamos encontrar formas soberanas de fazer comércio”, declarou.
Ele lembrou que o Brasil nunca questionou a atuação dos EUA no G7 e pediu que haja respeito mútuo entre os países. “Cada nação tem sua soberania. Não cabe ao presidente americano dar palpite nas decisões judiciais do Brasil.”
Cristina Kirchner e soberania
Questionado sobre a visita à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, Lula disse ter ido ao país com autorização da Justiça argentina e afirmou que a visita teve caráter humanitário. Ele comparou a situação com a carta publicada por Trump em defesa de Bolsonaro, classificando como inadmissível a tentativa de interferência de um líder estrangeiro no Judiciário brasileiro. “Aqui, se alguém cometeu um erro, será punido. A lei vale para todos.”
Empresários e resposta brasileira
Lula anunciou que pretende reunir empresários brasileiros que exportam para os EUA, como os setores de suco de laranja, carne e aviação, para discutir os impactos da tarifa. O presidente afirmou que o governo buscará alternativas de mercado e disse esperar o apoio do setor produtivo. “Quem acha que o Brasil deve ceder a tudo o que outro país impõe não tem orgulho de ser brasileiro.”
Ele também defendeu que o país não seja refém de decisões unilaterais e que a resposta seja firme, caso a taxação siga adiante. “Nós vamos juntos abrir novos mercados. Não é só o Brasil que sofrerá com essa tarifa, os EUA também sentirão os efeitos.”
Diálogo com Trump ainda sem previsão
Apesar das críticas, Lula afirmou que não descarta uma conversa direta com Trump no futuro, mas disse que, no momento, não há motivo para contato. “Dois presidentes não ligam um para o outro para contar piada”, ironizou. Ele lembrou que já manteve diálogo com outros presidentes americanos no passado e que, se necessário, fará o mesmo. “Mas até agora ele não deu nenhuma razão. Nem uma carta mandou. Publicou uma nota em site. Isso não é comportamento de chefe de Estado.”
Sobre a possibilidade de chamar a embaixadora brasileira em Washington, Lula disse que essa decisão caberá ao Itamaraty. Para ele, é essencial que o Brasil aja com sobriedade e estratégia. “Não tomamos decisões com febre. O Brasil quer respeito e está disposto a dialogar. Mas também sabe se defender.”
Investigação contra Bolsonaro
Ao final da entrevista, Lula criticou duramente a tentativa de Trump de defender Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente brasileiro será julgado com base em provas. “Se ele for inocente, será absolvido. Se for culpado, será preso. É assim que a Justiça funciona. Aqui, a lei vale para todos.”
A ação penal contra Jair Bolsonaro no STF, relacionada a supostas tentativas de golpe e ataques às instituições, ainda está em andamento e não tem data para ser concluída. O ex-presidente nega as acusações.